Morre André Ruschi, ambientalista que alertou sobre danos do desastre de Mariana no mar

André Ruschi avisou que a lama tóxica que vazou a barragem de rejeitos chegaria ao oceano, onde provocaria sérios danos à vida marinha

Por Luiz Ribeiro, no EM

Morreu na noite desta segunda-feira, em um hospital de Vitória (ES), o biólogo e ambientalista André Ruschi, de 60 anos, diretor da Estação Biológica Marinha Augusto Ruschi (cientista e pai dele), sediada em Aracruz (litoral do Espírito Santo), uma das instituições de pesquisa ambiental mais antigas do país. André Ruschi foi dos primeiros ambientalista a alertar que a lama que vazou das barragens de minério da Samarco em Mariana, em 5 de novembro passado, chegaria ao mar e causaria sérios danos à vida marinha. Ele também realizou vários estudos sobre os impactos ambientais da tragédia em Mariana.

O ambientalista estava internado desde 12 de março no Hospital Jayme dos Santos Neves, em Serra (Região Metropolitana de Vitória), com infecção generalizada, provocada por uma bactéria contraída por ele. Durante o período de internação, foi submetido a sessões de hemodiálise e respirava com a ajuda de aparelhos. No últimos dias, o quadro se agravou. No início da noite desta segunda-feira, ele sofreu uma parada cardíaca e não resistiu. Imediatamente após a sua morte dezenas de mensagens foram publicadas em redes sociais, com pessoas do meio científico e ambiental lamentando o falecimento do biólogo.

André Ruschi foi assistente do pai dele, a quem ajudou a fundar a Estação Bióloga Marinha Augusto Ruschi. Entre outras ações, criou o projeto de educação ambiental “Arca de Noé”, que ganhou notoriedade na Conferência do Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro em 1992, a Rio-92.

Logo após a tragédia em Mariana, em entrevista ao Estado de Minas, André Ruschi alertou que a lama tóxica que vazou a barragem de rejeitos da mineração da Samarco, além de arrasar a bacia do Rio Doce, chegaria ao mar, onde provocaria sérios danos à vida marinha, depois de percorrer 853 quilômetros.“O impacto na região marinha vai ser dezenas de vezes maior do que o que está ocorrendo ao longo do Rio Doce. O desastre no mar é crime internacional. É como se tivessem destruindo não o Rio Doce, mas o Rio Amazonas”, advertiu Ruschi.

Poucos dias depois, a previsão do cientista se confirmou, com lama atingindo uma extensão de cerca de 700 quilômetros quadrados próxima do litoral do Espírito Santo. Os rejeitos de minério afetaram a reserva ecológica de Comboios, localizada perto da foz do Rio Doce no Espírito Santo, o único ponto fixo de desova de tartarugas-gigantes no Brasil.

Após o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora em Mariana, André Ruschi percorreu toda a extensão do Rio Doce, para verificar de perto os impactos ambientais da tragédia ao longo da bacia em Minas Gerais e no Espírito Santo, chamando a atenção dos órgãos ambientais e autoridades para a reparação dos danos.

Ele também fez um trabalho minucioso sobre os prejuízos no mar. “Percorri a região e encontrei lugares onde a população está completamente desassistida e sem direção, pois não tem mais a pesca, não tem turistas, não tem nada. Até agora, foram cerca de 700 quilômetros quadrados atingidos no mar, mas essa extensão tende a se multiplicar. A área afetada vai se ampliar a cada movimentação das marés e do vento. Também vai se expandindo à medida que chegam mais rejeitos pelo Rio Doce. E a quantidade de material que ainda tem para descer é muito grande. A situação terá que ser monitorada por muito tempo. Nesse caso específico, se não for feito nenhum trabalho de limpeza, os impactos vão durar séculos”, declarou, em entrevista do ainda em novembro.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Alenice Baeta.

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