Na rua, tudo é compartilhado, fortalecendo rede contra a violência e evitando confiscos
Por Mateus Parreiras, no Estado de Minas
Desde os 15 anos, Elisa Santos Soares conviveu com a violência sexual dentro de sua casa. Hoje, aos 42, a mulher, natural de Conceição do Mato Dentro, na região Central de Minas, recorda dos ataques que sofria de companheiros da mãe alcoólatra, na cidade natal e, depois, quando vieram para Belo Horizonte. “Minha única opção de fugir disso tudo foi ir para a rua. Sinto como se tivesse nascido e crescido na rua. Hoje, me dói a solidão. Nunca senti como é ter uma família, estar no meio de pessoas que gostam de você e não de pessoas estranhas de quem você tem medo”, desabafa. Elisa é uma das mais de 70 pessoas que se deitam numa linha compacta sob cobertores nas calçadas da Rua dos Tamoios, no Centro de BH, uma das maiores aglomerações de moradores de rua da capital mineira. Mas, em meio a essa trajetória violenta, a mulher ainda encontra na rua gestos de solidariedade. Enquanto perambulava procurando algum tecido para se aquecer na noite de quarta-feira, recebeu um cobertor novo, ainda fechado no plástico, de um senhor também em situação de rua. “Ganhei um (cobertor) ontem, está sobrando, guardei, porque sempre aparece alguém que está precisando. E estou passando para ela”, disse Paulo Roberto Ribeiro Barbosa, de 47, natural de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. (mais…)
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