Revista Trabalho, Educação e Saúde lança primeiro número de 2017 e se posiciona sobre MP 746 e PEC 55

“Em sua primeira edição do ano, Trabalho, Educação e Saúde se posiciona sobre a “MP do Nível Médio” e aborda o adoecimento em saúde mental em territórios marcados pela violência, o crescimento do agronegócio e o aumento da intoxicação por agrotóxicos e uma análise sobre a evolução das equipes de saúde da família em tempos de Programa Mais Médicos. Traz ainda temas como a educação profissional técnica de nível médio em saúde na rede federal de educação, política de desprecarização do trabalho em saúde, produção do conhecimento sobre educação permanente, representação em conselhos tutelares e direito humano à alimentação. [Veja o Sumário abaixo]

Trabalho, Educação e Saúde é uma revista científica editada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz. Destina-se à publicação, com periodicidade quadrimestral, de debates, análises e investigações, de caráter teórico ou aplicado, sobre temas relacionados à educação no campo da saúde.” 

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Editorial

Um novo cenário de atraso e destruição na formação de nível médio no Brasil

Por Carla Macedo Martins, Angélica Ferreira Fonseca, Marcela Alexandra Pronko

Um retrocesso na configuração das políticas públicas de educação e saúde no Brasil — e, portanto, do campo da formação em saúde — constitui o pano de fundo deste número da Trabalho, Educação e Saúde.

Cumpre destacar, neste sentido, a Medida Provisória 746, popularmente conhecida como a ‘MP do Nível Médio’ — cujo teor consiste na alteração da atual Lei de Diretrizes e Bases (LDB), estabelecida na lei n. 9.394, promulgada em 1996, e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), criado pela lei n. 11.494, de 2007 — e a Proposta de Emenda à Constituição n. 55 (PEC 55), aprovada, em caráter definitivo, pelo Congresso Nacional, no dia 13 de dezembro do ano passado, objetivando instituir um Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União por 20 exercícios financeiros.

Considerando, em particular, as áreas de expertise editorial que pautam a Trabalho, Educação e Saúde, não podemos nos furtar de registrar os impactos dramaticamente negativos de ambas as propostas, sobretudo se analisadas de forma articulada no cenário nacional.

A MP do Nível Médio — publicada sem um processo amplo, capilarizado e democrático de discussão pela sociedade e, em particular, pelos educadores — aponta para um conjunto de mudanças que produzirão uma realidade educacional contraposta não só ao horizonte social da formação humana unitária e integral, mas também à conquista histórica da educação pública e gratuita pela nação brasileira.

Nossa crítica se sustenta em vastíssima literatura a respeito da relação entre trabalho e educação, produzida pela universidade brasileira, e na complexa história das políticas públicas dirigidas à formação dos jovens no Brasil; sustenta-se também no conjunto robusto de discussões e iniciativas nacionais de formação qualificada e socialmente referenciada dos trabalhadores em saúde ao longo de anos.

Inevitável observar que tais estudos, análises e pesquisas vêm tendo, na Trabalho, Educação e Saúde, desde o primeiro número, um privilegiado espaço editorial de publicização e circulação — constituindo, em poucas palavras, a própria razão de existência do periódico.

Neste sentido, podemos afirmar que a formação de nível médio hoje em vigor no território nacional — como fruto de conquistas por parte dos trabalhadores e de sucessivos projetos contraditórios de nação — toma como pressupostos seu caráter de educação básica e universal, sua articulação com (e não subsunção) a formação para o trabalho, e sua natureza unitária.

Não pretendemos ignorar aqui o fato de que estes pressupostos não estão ainda plenamente implementados hoje; aliás, grande parte da produção intelectual publicada pela Trabalho, Educação e Saúde indica precisamente os limites da efetivação de uma formação universal, unitária e integral numa sociabilidade marcada pela desigualdade. Contudo, descartados os misticismos ou as ilusões a respeito do tema, é inegável que a legislação que hoje rege este nível de ensino — e que a MP reforma — busca obstar-se à dualidade estrutural educacional: dualidade que acaba por legitimar e sustentar a perspectiva de que a educação deve ser diferenciada e gerar distintas categorias de cidadão.

É precisamente, portanto, sobre estas conquistas parciais, expressas na atual configuração da formação de nível médio consolidadas pelo Estado brasileiro até o presente momento, que incidem os efeitos deletérios da proposta de mudança ora encaminhada.

Destacamos, nesta direção, na MP publicada, alguns pontos de relevo, como a fragmentação de parte do que hoje compõe a formação em “itinerários formativos” (cf. caput do artigo 36); a vulnerabilidade dos educandos diante da submissão de parte significativa da carga horária às necessidades imediatas e voláteis do mercado e até mesmo diante da exploração como mão de obra desregulamentada (cf. parágrafo 17 do artigo 36); a desobrigação do oferecimento, pela totalidade das unidades escolares componentes da rede pública, do conjunto de áreas de formação (cf. parágrafo 1 do artigo 36); a limitação da carga horária da Base Nacional Comum Curricular (cf. parágrafo 6 do artigo 36) a apenas 1.200 horas; e o rebaixamento dos requisitos profissionais mínimos para o exercício do magistério, abrindo a possibilidade de “profissionais com notório saber reconhecido” (inciso IV do artigo 61) exercerem a docência.

Estes são alguns dos elementos do quadro grave de empobrecimento deste nível de ensino propostos pela MP em tela. Instituir-se-ia, na prática, dois tipos de educação de nível médio, consolidando, assim, a dualidade estrutural acima referida, através da subsunção cabal da formação humana aos desígnios do denominado ‘mercado de trabalho’, além do empresariamento e privatização da educação. Ao instaurar itinerários formativos nos termos propostos e ao submeter parcela significativa da formação ao treinamento, entre outros aspectos, podemos afirmar que, em última instância, a MP 746 aponta para um questionamento do nível médio como direito per se — como componente inerente da educação básica e universal — embora mantenha este nível de ensino formalmente enquanto tal.

Embora nossas principais considerações aqui tenham se centrado na MP 746, não poderíamos concluir este editorial sem reiterar que a discussão em torno da educação — ou seja, da formação de nível médio em saúde no Brasil — é também determinada por suas formas de financiamento e de alocação dos recursos públicos — precisamente a matéria da PEC 55. Em suma, as duas medidas combinadas, MP 746 e PEC 55, confluem no sentido de produzir um grave retrocesso da educação dos jovens e dos trabalhadores no Brasil.

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Sumário

Trabalho, saúde e formação política na Enquete Operária de Marx

Júlio César Lopardo Alves e José Marçal Jackson Filho

Resumo | Abstract | Texto Completo

Artigos

Saúde mental e atenção básica: território, violência e o desafio das abordagens psicossociais

Nina Isabel Soalheiro dos Santos Prata, Daniel Groisman, Desiane Alves Martins, Elaine Teixeira Rabello, Flávio Sagnori Mota, Marco Aurélio Jorge, Mariana Lima Nogueira, Renata Ruiz Calicchio e Renata Veloso Vasconcelos

Resumo | Abstract | Texto Completo

A produção do conhecimento em saúde mental e o processo de trabalho no centro de atenção psicossocial

Ana Lúcia Abrahão, Flávia Fasciotti Macedo Azevedo e Maria Paula Cerqueira Gomes

Resumo | Abstract | Texto Completo

A educação profissional técnica de nível médio em saúde na rede federal de educação

Anderson Boanafina, Lilian Boanafina e Mônica Wermelinger

Resumo | Abstract | Texto Completo

Política de desprecarização do trabalho em saúde em uma instituição federal de C&T: a experiência de professores e pesquisadores

Priscila Matos Crisostomo da Silva, Kátia Reis de Souza e Liliane Reis Teixeira

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Agronegócio e agrotóxicos: impactos à saúde dos trabalhadores agrícolas no nordeste brasileiro

Isabelle Maria Mendes de Araújo e Ângelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira

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A ampliação das equipes de saúde da família e o Programa Mais Médicos nos municípios brasileiros

Gabriella Morais Duarte Miranda, Antonio da Cruz Gouveia Mendes, Ana Lúcia Andrade da Silva e Pedro Miguel dos Santos Neto

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Dez anos da educação permanente como política de formação em saúde no Brasil: um estudo das teses e dissertações

Eluana Borges Leitão de Figueiredo, Mônica Villela Gouvêa, Elaine Antunes Cortez, Silvia Cristina Pereira dos Santos, Kyra Vianna Alóchio e Lauanna Malafaia da Silva Alves

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Precarização e fragmentação do trabalho na Estratégia Saúde da Família: impactos em Santa Maria (RS)

Maria Denise Schimith, Ana Cristina Passarella Brêtas, Bruna Sodré Simon, Dyan Jamilles Teixeira Brum, Gabriela Fávero Alberti, Maria de Lourdes Denardin Bidó e Taís Falcão Gomes

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Estratégia Saúde da Família e uso racional de medicamentos: o trabalho dos agentes comunitários em Palmas (TO)

Maria Sortênia Alves Guimarães, Noemia Urruth Leão Tavares, Janeth de Oliveira Silva Naves e Maria Fátima de Sousa

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Pesquisa participante na Estratégia Saúde da Família em territórios vulneráveis: a formação coletiva no diálogo pesquisador e colaborador

Ramiz Candeloro Pedroso de Moraes, Danilo de Miranda Anhas, Rosilda Mendes, Maria Fernanda Petroli Frutuoso, Karina Rodrigues Matavelli Rosa e Carlos Roberto de Castro e Silva

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Educação em saúde no pré-natal a partir do referencial teórico de Paulo Freire

Daniely Quintão Fagundes e Adauto Emmerich Oliveira

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Direito humano à alimentação adequada: percepções e práticas de nutricionistas a partir do ambiente escolar

Carla Rosane Paz Arruda Teo, Luciara Souza Gallina, Maria Assunta Busato, Taíne Paula Cibulski e Tamara Becker

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A ruptura social infantojuvenil e sua inferência nas representações de conselheiros tutelares

Cléa Adas Saliba Garbin, Danielle Bordin, Cristina Berger Fadel, Artênio José Ísper Garbin e Nemre Adas Saliba

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Agente comunitário de saúde no Espírito Santo: do perfil às atividades desenvolvidas

Ana Claudia Pinheiro Garcia, Rita de Cássia Duarte Lima, Heletícia Scabelo Galavote, Ana Paula Santana Coelho, Elza Cléa Lopes Vieira, Renata Cristina Silva e Maria Angélica Carvalho Andrade

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Práticas integrativas e complementares: conhecimento e credibilidade de profissionais do serviço público de saúde

Mouzer Barbosa Alves Gontijo e Maria de Fátima Nunes

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Resenhas

Medicalização em psiquiatria. Freitas, Fernando; Amarante, Paulo. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2015. 148p.

A medicina financeira. A ética estilhaçada. Vianna Sobrinho, Luiz. Rio de Janeiro: Garamond, 2013. 336p.

 

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