Os meninos pretos, meus alunos, são hoje insignificantes cadáveres acomodados em covas rasas

Por Arísia Barros em Raízes da África

Eu os conheci, ainda meninos, entre 10 e 11 anos, o Daniel e o Cícero.

Foram meus alunos.

Os dois pretos, moradores de um dos bairros mais vulneráveis para jovem preto viver, em Maceió, AL.

Eram bons alunos e  trazia na bagagem diária suas histórias de vidas substantivas/subversivas.

Eram bons meninos e traziam consigo caminhões de sonhos. Sonhavam com o futuro (todos nós sonhamos),  mas, o presente os encontrou bem antes.

 As  descobertas da vida  periférica abriram  buracos fundos de experiências marginalizadas, e, com histórias de vida diferentes  e o racismo desenfreado, internalizado e consentido nas Alagoas dos Palmares, a morte os enlaçou… Ambos pretos. Ambos meus alunos.

Os meninos pretos, meus alunos, são hoje insignificantes cadáveres acomodados  em covas rasas.

Relegados às extremidades da história, como água empoçada.

Estão mortos, antes dos 20 anos.

Eita, Zumbi!

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