Os olhos verdes do Xingu e o silêncio dos cegos, por Guta Assirati

“Sim estou feliz, mas antigamente gente realizava essas festas com multidões, então olhei para a multidão e lembrei dos mentum, os antigos, quando ficávamos nessa região, porque éramos um povo que andava: vi a rere mej tchoba, a grande festa, e tinha muitas pessoas, mas hoje não somos tantos e isso me entristeceu.” (Raoni Metuktire sobre o desfile na Imperatriz Leopoldinense para Rádio Yandê).

No Indigenista

Quem assistiu Cacique Raoni Metuktire em cima de um carro alegórico em plena Sapucaí pode, descuidadamente, ter interpretado seus olhos alheios ao cenário em torno das lideranças Xinguanas em destaque no desfile da Imperatriz Leopoldinense no Rio de Janeiro. Quem conhece um pouco da história das lutas indígenas sabe, entretanto, que aqueles olhos enxergam mais longe do que se pode imaginar… Lideranças dos Povos Kamaiurá, Yawalapiti, Kaiapó e Kalapalo, sabiam muito bem o que faziam ali. (mais…)

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A questão negra entre continentes: possibilidades de tradução intercultural a partir das práticas de luta?

A crise consiste precisamente no fato de o velho estar a morrer e o novo não ter ainda nascido; neste interregno, podem acontecer os mais variados fenómenos mórbidos. (Gramsci, 1996, p. 33)

Por Maria Paula Meneses, no Buala

A ‘questão do homem negro’1, da sua humanidade, tem estado no centro dos debates pós-coloniais. Escrevendo no início da década de 1950, Frantz Fanon problematizava o carácter racial da epistemologia eurocêntrica, que constrói o negro como não-ser, desprovido de humanidade (1967, p. 7). Mas no nosso tempo, apesar da emergência de um projeto politica e epistemicamente alternativo – o Sul global2 – permanece refém da natureza hierárquica das relações Norte-Sul, relações assentes numa racionalidade moderna eurocêntrica, promotora de uma lógica capitalista, impessoal e devastadora, apoiada numa ordem política e económica desigual e assumidamente monocultural. É esta lógica que torna quase impossível reconhecer como iguais as vidas e as vozes dos que são concebidos como não-existentes. (mais…)

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Documentário sobre mulheres da periferia estreia no dia 8 de março

Filme “Nós, Carolinas” questiona invisibilidade de moradoras das margens da cidade de São Paulo

Nós Mulheres da Periferia

No Dia Internacional da Mulher, 8 de março, quarta-feira, às 19h, o coletivo Nós, mulheres da periferia, formado por comunicadoras que promovem narrativas sobre ser mulher nas margens da cidade de São Paulo, realizará na Galeria Olido a pré-estreia do vídeo “Nós, Carolinas”. Este é o primeiro documentário realizado pelo grupo e apresenta vivências de mulheres moradoras de quatro regiões diferentes da capital paulista. Após o lançamento, o curta entra em circuito durante o mês de março em diferentes regiões do município. (mais…)

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Saída pela porta dos fundos

Nem a entrega do Pré-Sal, nem o esforço deliberado de destruir o Mercosul comoveram Washington. Esnobado, ministro viu sua “nova” política naufragar — com ou sem dores nas costas

Por Josué Medeiros, Gonzalo Berrón e Lys Ribeiro, em Outras Palavras

Menos de um ano após tomar a frente do Ministério das Relações Exteriores, José Serra pediu exoneração do cargo na noite desta quarta-feira 22 a Michel Temer, devido a problemas de saúde. (mais…)

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Capitalismo, dinheiro e excrementos

Como Giorgio Agamben e Walter Benjamin releram as observações cristãs sobre o dinheiro. Por que a psicanálise o associa à matéria fecal, à “insuficiência de mim” e à guerra de todos contra todos

Por Mauro Lopes, editor do blog Caminho pra Casa, em Outras Palavras

O filósofo italiano Giorgio Agamben, um dos relevantes protagonistas do pensamento crítico na virada do século XX para o XXI disse numa entrevista em 2012 que “Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro” (aqui). A afirmação de Agamben inspirou-se em outro filósofo, este um protagonista da primeira metade do século XX, um pensador fora da curva, Walter Benjamin. Em seu curto e denso “O Capitalismo como Religião”, de 1921 (aqui), Benjamin escreveu que o capitalismo é em si mesmo a religião mais implacável que já existiu, e promove um culto ininterrupto ao Dinheiro, “sem trégua nem piedade”, uma religião que não visa a reforma da pessoa, “mas seu o seu esfacelamento”.[1] (mais…)

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Nossa Senhora das Grotas e Aparecida no samba

Por Roberto Malvezzi (Gogó)

O sagrado e o profano não têm distinção no meio do povo. Conforme a famosa frase de Moraes Moreira “sagrado e profano o baiano é carnaval”. O que interessa é a festa. Os demais elementos vêm como auxiliares, inclusive se o enredo for sobre Nossa Senhora Aparecida ou Nossa Senhora das Grotas abrindo o desfile de Grande Rio em homenagem à Ivete Sangalo. (mais…)

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Com ‘risco’ de ampliar alvos, Lava Jato enrolou para prender lobista-mor, por Janio de Freitas

Na Folha

Jato lerdo é mais uma originalidade da produção nacional. Como o nome sugere, criada nos laboratórios da Lava Jato, que também deu (com a colaboração de peessedebistas) muitas provas da eficácia do invento. Sujeita, no entanto, a frequentes contestações. Todas, é verdade, relegadas ao descaso, que é a vala comum reservada aos argumentos e evidências inconvenientes ao poder. Por acaso ou por contingências incontornáveis, porém, a criação de repente se autodenuncia. (mais…)

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