Falando sério…

Por Rui Cezar dos Santos

… e empregando a definição #3 do Dicionário Houaiss para GENOCÍDIO, temos: “aniquilamento de grupos humanos, o qual, sem chegar ao assassínio em massa, inclui outras formas de extermínio, como a prevenção de nascimentos, o sequestro sistemático de crianças dentro de um determinado grupo étnico, a submissão a condições insuportáveis de vida etc.” (ênfase minha)

O Aurélio comenta … “causar-lhes grave lesão à integridade física ou mental; submeter o grupo a condições de vida capazes de o destruir fisicamente no todo ou em parte …”

Não reclamo a autoria desta acusação. A saber, de que as elites brasileiras e seus simpatizantes vêm, desde sempre, praticando o genocídio como um “modus vivendi” ou mesmo um “modus operandi” da condução da vida econômica e social. Mas, até onde sei de minhas leituras, nunca encontrei uma definição assim tão clara e desnuda de qualquer atenuante. Claro, a história e seus relatores já discorreu sobre a carnificina de séculos contra os nativos. Sobre os maus tratos da escravidão dos afrodescendentes. Do sufocamento de várias guerras civis (chamadas de revoltas) e religiosas, como relatou os Sertões. Do sufocamento, com mortes, das Ligas Camponesas do nordeste (Julião). Mas desconheço qualquer registro de GENOCÍDIO. Dos destituídos. Assumo o risco de estar enganado e, se sim, gostaria de ser corrigido com os esclarecimentos (é uma pena não ter o telefone do João Antônio de Paula para socorrer-me).

Os dicionários à minha disposição, não os melhores, das línguas coloniais, inglês e francês, definem GENOCÍDIO de um modo reduzido à sua extrema manifestação – “a exterminação de um grupo étnico ou social”. É compreensível. À exceção de casos como o das ilhas Salomão, cuja população foi exterminada pelos holandeses, a expansão dos países centrais pelo mundo, o colonialismo ou imperialismo, se fez sob a justificativa de “guerras de conquista” (ou missão religiosa), portanto patrióticas, promovendo carnificinas, mas não o extermínio. O modo como definem a palavra subtrai de suas consciências e, assim, legitima a força propulsora deste horror, O CAPITALISMO, que continua praticando o genocídio segundo a definição mais apurada, cristã talvez, dos dois lexicólogos brasileiros. O que praticamente impossibilita-nos recorrer à ONU ou ao tribunal sediado em Haia para julgamento de tal barbárie.

“A submissão a condições insuportáveis de vida” retrata com clara e cirúrgica precisão o que vem sendo sistematicamente imposto aos pobres, aos afrodescendentes, às mulheres e povos indígenas por nossos governantes, os políticos em todas as esferas do poder, seus milionários cúmplices urbanos e rurais, a justiça vista como um todo, a polícia, seu aparelho menosprezado como o deveria ser o capitão de mato, e, porque não, a igreja católica.

Se você considera que estas ponderações procedem, admite nelas uma ponta de verdade, como irá se portar, doravante, como cidadão? Do fundo da minha infelicidade, do âmago da desonra que sinto, e da mísera impossibilidade de, ao menos, reconhecer um OUTRO e nele me afirmar, pergunto, a todos, como proceder? (Estou partindo do suposto de que ninguém confessa ter assim realizado o estado histórico/estrutural desta terra habitada que recusa se transformar em uma NAÇÃO.)

Já me pronunciei em outras ocasiões. Comentei sobre desobediência civil, sobre a necessidade de manifestações regulares e pacíficas, porque não mensais, por todos os cantos do país. Estamos só. Acéfalos. Nossos “amados líderes” não demonstraram com clareza que entendem o que aconteceu, acontece e acontecerá aos destituídos e perseguidos da pátria. Trataram da questão com uma precária medicina alopática que apenas alivia a dor, mas não extirpa sua causa. E não baratina o hodierno Baal: o mercado.

Se você vai participar das manifestações do mês empunhe esta arma: denuncie o genocídio. E também, acuse o deputado, senador, governador, prefeito e vereador em que votou. Cobre de seu jornal preferido, revista, gibi, tudo o que serve para comunicar. ABAIXO O GENOCÍDIO deve ser a palavra de ordem hoje, amanhã e depois. O momento traz promessas, poucas é verdade. Aproveitemos. Use o facebook ou outra rede ou “chat” de que participe para radicalizar sua contribuição. Menos do que isto é vender a alma (se cristão) ou se vender simplesmente, pelo vão alívio de acusações e gozações supérfluas.

De verdade, estamos pela “hora da morte”.

 

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