Cunha, você foi preso, abandonado, condenado. Delata tudo!, por Leonardo Sakamoto

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Eduardo Cunha, que foi presidente da Câmara dos Deputados e uma das pessoas mais poderosas do país, foi condenado, nesta quinta (30), a 15 anos e quatro meses de prisão por corrupção passiva, evasão de divisas e lavagem de dinheiro pelo juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal no Paraná. E é apenas a primeira condenação de outros processos dos quais ele é réu.

Após efetivar o impeachment, não durou muito tempo. Foi destituído da Presidência da Câmara e teve seu mandato cassado por seus pares. Precisavam entregar um corpo para tentar apaziguar os ânimos do público. Poderia ter sido destituído antes pelo Supremo Tribunal Federal. Mas acabou ficando por lá e cumprindo o papel de carrasco em nome de muita gente ”de bem”.

Cunha continua exercendo influência tanto no Congresso Nacional quanto no governo federal. E, vez ou outra, manda seus recados, mostrando que guarda material suficiente para derrubar a República pelo menos umas duas vezes.

Imagine se o seu ódio fermentasse mais do que os restos de comida usados para fazer maria-louca (a pinga da cadeia) e ele resolvesse soltar o gogó neste exato momento. E que a oferta fosse aceita pelos procuradores da República em Curitiba, claro. Seria o caos – uma bela limpeza no sistema político, principalmente no PMDB. Talvez apenas sobrevivessem as baratas, o que é sempre um risco.

Mas também haveria um outro efeito colateral: as reformas que estão sendo feitas à toque de caixa pelo governo federal não sairiam do papel.

Seja porque o comando do governo federal, patrocinador da mudança, seria decapitado, seja porque uma série de parlamentares também iriam ao cadafalso.

Considerando que as mudanças – que reduzem direitos e afetam a vida da classe trabalhadora – estão sendo empurradas por goela abaixo, sem o devido debate público, uma delação ampla, geral e irrestrita seria um ganho para a democracia.

Temer foi colocado onde está pela expectativa de parte da classe política de que ele, de algum forma, conseguisse impor um freio à operação Lava Jato. E pela expectativa de parte do empresariado de que seu governo garantisse uma Reforma Constitucional sem necessidade de convocar uma Assembleia Constituinte.

Desde a 1988, ao mesmo tempo que defendia a liberdade na economia, a Constituição previu que o poder público devia ser o responsável pela garantia da dignidade da população brasileira. Isso, é claro, fez com o Estado assumisse uma série de políticas que significam gastos. Agora, em momento de crise, busca-se jogar pela janela essas políticas que, não se engane, não voltarão no período de vacas gordas.

Cunha, você foi preso, abandonado, condenado. Tá esperando o quê? Delata tudo!

Foto: Faixa em protesto pelo impeachment que tornou-se icônica por razões óbvias

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