Impactados por Belo Monte, ameaçados por Belo Sun, os indígenas da Volta Grande do Xingu acordam a cada dia com o temor de que a catástrofe final chegará no próximo segundo
É difícil explicar o que é etnocídio. Morte cultural de um povo. Parece sempre abstrato, coisa de antropólogo. Mas Luane Alice pode nos contar como um jeito de ser e de estar no mundo morre. E contar também que é bem menos abstrato do que parece. Há menos de dois anos, em setembro de 2015, a canoa onde eu navegava na Volta Grande do Xingu alcançou Muratu, a aldeia dos Juruna. Crianças indígenas saltavam do barranco para o rio, numa alegria que há muito eu não via em crianças urbanas. De fato, talvez nunca tenha visto em crianças urbanas. Por alguns instantes, elas voavam. Foi num ponto deste voo que o fotógrafo Lilo Clareto congelou a imagem de Alice, a mais animada delas. Hoje, a imagem segue existindo como arte. E como documento. Mas a vida já não existe. (mais…)