Brasil em Fúria

Por Patrick Mariano, no Justificando

“Cada greve lembra aos capitalistas que os verdadeiros donos não são eles, e sim os operários, que proclamam seus direitos com força crescente. (…) Nos tempos atuais, pacíficos, o operário arrasta em silêncio sua carga, não reclama ao patrão, não reflete sobre sua situação. Durante uma greve, o operário proclama em voz alta suas reivindicações, lembra aos patrões todos os atropelos de que tem sido vítima, proclama seus direitos, não pensa apenas em si ou no seu salário, mas pensa também em todos os seus companheiros, que abandonaram o trabalho junto com ele e que defendem a causa operária sem medo das provações”. (Lênin, Sobre as Greves, 1899)

O sucesso da greve geral do dia 28 indica que a classe trabalhadora no Brasil, apesar dos sucessivos ataques que vem sofrendo por parte de uma quadrilha que perpetrou um golpe parlamentar, não só é capaz de reagir a esses ataques como ainda possui capacidade de organização, mobilização e solidariedade de classe.

A aposta que a criminalização da política e a tentativa de destruição de símbolos da esquerda teria arrefecido a capacidade de reação da classe trabalhadora a ponto de terem o descaramento de apresentar propostas que destroem o pouco do tecido de proteção social construído historicamente, se mostrou um grande erro.

A viabilidade eleitoral do projeto do PSDB acabou sendo atacada pela onda de criminalização da política e a opção João Dória não é levada a sério, como se viu dias atrás pela voz do presidente do Banco Itaú, Roberto Setúbal.

Sobre Dória, se é que vale a pena gastar uma linha, o que é notável é que ele tem expressado a ideologia tosca, pobre e vazia similar a do conteúdo do MBL. Enquanto os políticos mais experientes da direita apenas usaram esses deploráveis e insignificantes personagens da política para atingir os objetivos do golpe parlamentar e depois os descartaram como bagaço de laranja, João Dória paga o patético preço de se vestir de um Kim Kataguiri adulto para buscar destaque nacional.

O fiasco de João Dória e daqueles que duvidaram da capacidade de mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras brasileir@s se torna evidente quando se constata que 35 milhões aderiram à greve e o Brasil parou.

O papel de conscientização desse processo gigantesco de mobilização ainda dará muitos frutos, assim como o exemplo didático de que é possível enfrentar a escalada autoritária de retirada de direitos com organização e unidade. Outro saldo positivo inestimável é que a política, mesmo com os incessantes ataques, ainda é fonte de alteridade e solidariedade, valor positivo do regime democrático.

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No dia 4 de maio próximo, na Livraria da Vila da Alameda Lorena, em São Paulo, essa coluna lançará o livro Brasil em Fúria, fruto dos seus dois anos de análises semanais. O livro aborda temas como Fascismo, Democracia, Política e Direitos Humanos.

O prefácio da obra ficou a cargo do querido amigo e um dos maiores pensadores do direito na atualidade, Alysson Leandro Mascaro, professor de filosofia do direito da Universidade de São Paulo.

Em nome dos autores Giane Álvares, Marcio Sotelo, Marcelo Semer e Rubens Casara, convido a todos e todas para compartilhar conosco essa grande alegria. Esperamos vocês lá.

Patrick Mariano é escritor. Junto a Marcelo Semer, Rubens Casara, Márcio Sotelo Felippe e Giane Ambrósio Álvares, assina a coluna ContraCorrentes, publicada todo sábado no Justificando.

Destaque: Greve geral de 28 de abril de 2017, no Rio de Janeiro. Foto: Marcelo Valle (reprodução Facebook)

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