CIR: “Ao povo indígena Gamela”

“Enquanto houver persistência, haverá resistência – Vivo até o último índio”

 O Conselho Indígena de Roraima (CIR), organização indígena criada para defender os direitos e interesses dos povos indígenas de Roraima acompanhando durante esses dias o sofrimento e o covarde ataque cometido contra o povo Gamela, no domingo (30), durante uma retomada no território tradicional em Povoado das Bahias, no município de Viana, Maranhão (MA), presta APOIO à luta e a resistência desse povo que de forma cruel, foi atacado por pistoleiros, fazendeiros, políticos, latifundiários e por pessoas sem o menor senso de respeito e humanidade. A esse ataque, também REPUDIAMOS pedindo que a justiça seja feita e os direitos territoriais desse povo sejam respeitados, conforme garantido na Constituição Federal Brasileira de 1988, a única que ainda nos cabe recorrer e assegurar os nossos direitos territoriais originários.   

É inaceitável que tamanha violência deixando pelo menos 13 indígenas Gamela, feridos, entre os quais, uns cinco atingidos por armas de fogo e dois que seguem internados e tiveram suas mãos decepadas durante o ataque, fique impune aos olhos da justiça, do Estado brasileiro, assim como das instâncias internacionais que defendem os direitos indígenas e os direitos humanos. Não é possível que em mais uma tentativa de reocupação de território tradicional, indígenas sejam atacados e violentados.

Tal violência é o retrato do cenário de retrocessos de direitos que vivemos, principalmente, direitos indígenas, onde o Estado, descaradamente, vem negando e descumprindo um direito constitucional que é demarcar e proteger as terras indígenas. Essa negação, não só rasga, mas como fere princípios fundamentais sobre os direitos indígenas, cujo principal fonte de vida dos povos é a terra sagrada.

A sociedade brasileira tem a responsabilidade compartilhada para proteger os territórios indígenas e os seus povos. Não pode silenciar diante da vulnerabilidade que se encontram os Gamela e da violência que estão passando, é uma questão de cobrar do Estado brasileiro providências urgentes para o reconhecimento oficial de acordo com as reivindicações indígenas, adoção de medidas necessárias de proteção à vida e a integridade física, e a aplicação da justiça com seriedade sem influências políticas e econômicas.

Diante de ataques genocidas como esse, cometido contra o povo Gamela e vários povos indígenas do Brasil por parte do agronegócio, fazendeiros, políticos e toda classe opressora de direitos e anti-indígenas, o Conselho Indígena de Roraima (CIR) também reafirma que sempre defenderá direitos indígenas, ainda que sejam questionados pelo Estado, como foi o caso dos indígenas Gamela, quando o próprio ministro da Justiça usou a expressão “supostos indígenas”, tentando deslegitimar a identidade étnica e cultural desse povo. Essa expressão reforça o posicionamento do ministro da Justiça em não reconhecer e valorizar a imensa diversidade cultural existente em nosso país.

No mês de janeiro desse ano, o CIR e uma comitiva de lideranças indígenas em intercâmbio no estado do Maranhão, conheceram um pouco da realidade de vida das mulheres quebradeiras de coco babaçu. Na ocasião, também tiveram a oportunidade de conhecer a realidade do povo Gamela, um cotidiano de tensão e ameaças, mas também de resistência, luta, trabalho, riqueza cultural e tradicional.

Por fim, nessa aliança entre os povos indígenas do Brasil que existe há mais de 500 anos, aliança de sobrevivência e resistências, o CIR e os povos indígenas de Roraima, manifestam um dos lemas de fortalecimento, união e de conquista nesses mais de 40 anos de luta e resistência ao povo indígena Gamela:

“Enquanto houver persistência, haverá resistência – Vivo até o último índio”

                                                                              Boa Vista, 4 de maio de 2017.

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