Os Desordeiros e a Longa Noite

Por Jose Luis Vianna da Cruz*

Eles atuam para tumultuar as manifestações. Atuam com violência, fazem tudo para impedir que as manifestações aconteçam pacificamente, dentro da ordem e da democracia. Quem são eles? São os policiais, que atacam as pessoas –o que é proibido– desarmadas, indefesas, que exercem os direitos democráticos de reunião, expressão e manifestação.

Mas, eles não estão sozinhos. São vítimas das cúpulas policiais e militares que os formam e os comandam, dentro da cultura da violência extrema contra a população, como o fazem as ditaduras; os inimigos são os direitos humanos, civis, sociais e políticos.

A cúpula da nossa polícia militar é órfã da Ditadura Civil-Militar. São só eles os culpados? Não; são, também, via de regra, as autoridades dos executivos municipais estaduais e federal, que utilizam a Polícia, que não deveria ser militar. A polícia, na democracia, garante e protege os direitos.

E tem mais culpados: o Legislativo e o Judiciário, municipais, estaduais e federais, que ficam omissos e complacentes, não enfrentando publicamente o debate sobre o que constitui a ordem democrática, que é uma ordem feita de divergências, conflitos, enfrentamentos, confrontos, que, por sua vez, são consequência da liberdade, ou, seja, são a própria expressão da Democracia.

Todas essas Autoridades da Ordem atuam como desordeiros violentos, impedindo a vigência da ordem democrática.

E, finalmente, chegamos ao último co-responsável, a Grande Imprensa, que sabe de tudo isso. Os jornalistas são formados nos princípios das liberdades democráticas, mas são vítimas dos interesses privados, corporativos, dos donos da Grande Mídia. Esta tomou o “partido” dos grupos conservadores radicais, elitistas, anti-populares, a tal ponto que tem sido condenada pela Grande Mídia internacional, que, mesmo quando conservadora, busca ser fiel aos princípios da ampla e livre informação.

Isto ficou patente na coluna da Ombudsman da Folha de S. Paulo, no último domingo, quando denunciou a vergonhosa, tendenciosa, omissa e conservadora cobertura que a Grande Mídia Nacional fez da Greve Geral. A Ombudsman teve que recorrer à cobertura da Grande Imprensa Mundial para revelar a estimativa de 40 milhões de brasileiros que paralisaram suas atividades, em mais de 130 cidades, em todos os estados brasileiros e na capital federal.

A cobertura da nossa grande mídia tentou “provar” que a maior greve geral da história do país –mesmo sofrendo ataques violentos da polícia, pressões e chantagens dos patrões, o que não foi noticiado– tinha sido um fracasso total. A frase final da Ombudsman foi: “…o bom jornalismo aderiu à greve geral. Não compareceu para trabalhar”.

Estamos atravessando uma Longa Noite de obscurantismo, que tenta ressuscitar a barbárie da escravidão e da servidão do povo aos senhores das terras, do capital e dos juros. Mas, não há noite que dure para sempre…o sol sempre volta a brilhar. É bom que a Grande Imprensa compreenda que a percepção da realidade não passa mais totalmente por ela, e que, quando o sol voltar a brilhar, fruto da nossa luta, se ela não se democratizar, desde já, e cumprir sua função precípua, não haverá, para ela, lugar ao sol…

*José Luis Vianna da Cruz é professor da Universidade Federal Fluminense em Campos.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por MST.

Greve geral de 28 de abril de 2017, no Rio de Janeiro. Foto: Marcelo Valle (reprodução Facebook).

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