Celebração da cultura afrobrasileira marca assinatura de TAC na fazenda em Vassouras (RJ)

Em cerimônia realizada na Fazenda Santa Eufrásia, representantes das comunidades negras lembraram dos antepassados

MPF/RJ

O Ministério Público Federal (MPF) e a Fazenda Santa Eufrásia, localizada no município de Vassouras (RJ), realizaram no último sábado (6), em ato simbólico, a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que estabelece uma outra forma de turismo de memória na região de Vassouras, contemplando a contribuição do povo negro e de sua cultura.

Estavam presentes no evento lideranças negras da região e representantes de órgãos e entidades regionais, como a prefeitura de Vassouras, membros da Comissão da Verdade da Escravidão Negra, a Comissão da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Volta Redonda, professores da Universidade Federal Fluminense.

O advogado da proprietária da fazenda ressaltou a importância da assinatura e o compromisso em virar a página sobre o modo de tratamento de temas como a escravidão e o racismo. “A fazenda tem o compromisso de virar essa página e garantir o respeito à população negra, sem racismo ou discriminação”, afirmou. Após serem cumpridas todas as obrigações, a fazenda receberá o selo “fazenda sem racismo”, que consolidará esta nova etapa do turismo na região.

Toninho Canecão, liderança do quilombo São José da Serra, de Valença, lembrou dos antepassados que foram escravizados na fazenda e destacou que hoje os negros podem falar e se defender. “Antes a única defesa que existia era fugir. Hoje nós podemos propor uma forma de enfrentamento que busca na raiz os problemas causados pelo racismo e tenta um caminho para superá-lo de vez”, enfatizou.

Durante a cerimônia, Maria de Fátima, do jongo de Pinheiral, leu os nomes de algumas pessoas que constavam como escravizadas no inventário da fazenda de 1880, como José Benguela, Benedito Monjola, Casemiro, Cezaria, e Marcelina. A cada menção de nome, as pessoas respondiam “presente”. Ao final, uma roda de jongo se formou para festejar o momento histórico.

Após o evento, foi realizado debate com a professora Iolanda de Oliveira, que lembrou do papel da educação na construção de narrativas que destaquem e valorizem a posição das negras e dos negros, principalmente com crianças e jovens. “É fundamental trabalhar na aplicação da Lei nº 10.639/2003, que trata do ensino da história da África, e propor documentos como este TAC”, disse.

Segundo o procurador da República Julio José Araujo Junior, responsável pelo caso, o próximo passo é o acompanhamento das obrigações do TAC e a discussão ampla com as fazendas e o Poder Público local sobre formas de realizar um turismo sem racismo na região.

Imagem: Apresentação durante assinatura do TAC na Fazenda Santa Eufrásia (Foto: MPF/RJ)

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