Parque do Cocó, Fortaleza: uma vitória que deixa a desejar

Por Soraya Tupinambá

Me identifico como ambientalista desde que conheci a ecologia política pelas mãos da professora Vanda Claudino Sales. Com ela me apaixonei pela questão ambiental. Quando ainda estudante, fui procurá-la na geografia para fazer um debate sobre meio ambiente na Engenharia de Pesca. Eu era estudante e do C.A, e ela me disse de maneira implacável “e desde quando a engenharia de pesca se preocupa com a questão ambiental?”. A provocação se fez acompanhar de um sorriso. Sua provocação, pura verdade, mas ela tinha encontrado uma pessoa, eu, com a mesma determinação que respondeu: foi por isso que vim procurá-la.

De maneira generosa no dia e hora proposto ela estava lá, com sua inteligência e brilhantismo compartilhando sua visão ecológica com alunos da engenharia de pesca. E foi assim e a partir desse encontro que acompanhei sua luta no Salve o litoral em defesa do Cocó, das lagoas, rios e áreas verdes de Fortaleza, que me envolvi e acompanhei as reflexões da eco 92 e que em 1993 estava fundando junto com outros companheiros, o Terramar. Muitos de vocês se espantariam de saber que frequentam e fruem de áreas cuja contribuição de Vanda Sales foi fundamental para que estas subsistissem e pudessem ser usufruto das gerações atuais. Foram muitas e incontáveis contribuições ás lutas e a reflexão ambiental,

Não, eu não estou saudosa, só lembrei de tudo isso por saber que esta cientista e ecologista política da maior relevância vai ser homenageada no Domingo, ocasião da regulamentação do Parque do Cocó pelo Governo do Estado. Ao mesmo tempo soube que ela declinou da homenagem, o que mais uma vez me surpreendeu e me ensinou. Sim, fiquei surpresa, nunca imaginei a regulamentação do parque sem o sorriso e alegria de Vanda Claudino Sales, João Alfredo Telles Melo, Marília Lopes Brandão e tantos outros ambientalistas históricos desta luta. Quis saber suas razões. Vanda é daquelas que não vai sozinha, e ao saber que o movimento ecológico critica a não inclusão de áreas essenciais a integridade e a funcionalidade dos ecossistemas abrigados no interior dos limites do parque, aí estava o motivo pelo qual não poderia fazer festa,

Não, Vanda não poderia fazer festa ao saber que comunidades tradicionais foram incluídas nos limites de uma unidade de proteção integral, não sendo compatível a modalidade eleita (parque) e a permanência dessas populações com direito á vida plena e digna (infraestrutura social, desenvolvimento econômico). Não há segurança jurídica para essa perspectiva de vida das comunidades tradicionais e assim a festa não poderia acontecer.

Não, Vanda não poderia fazer festa com as mudanças na Lei de Uso e ocupação do Solo promovidas pela PMF com impactos sobre os ecossistemas que integram o parque, Não poderia fazer festa com a falta de transparência nas intervenções urbanas previstas junto ao parque, com a falta de co-responsabilidade na regulamentação e conservação deste por parte da Prefeitura Municipal de Fortaleza.,

Vanda sabe que as boas festas não são feitas de multidões. As boas festas são aquelas da diversidade, onde não se anula o diverso, muto pelo contrário, a diversidade é acolhida e encontra vez e voz. O diálogo não é um exercício inócuo, ele produz deslocamentos e síntese. Neste Domingo Vanda me faz festejar, ainda que não seja a partir do evento de regulamentação do parque, embora registre aqui sua importância, mesmo que parcial, Na verdade o verdadeiro motivo de festa é ver que a luta ambientalista e pela conservação do Parque do Cocó em sua integridade não se encerra, ela se renova!

 

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