Indígenas ocupam Secretaria Especial da Saúde em Porto Alegre por saída de coordenador

Por Fernanda Canofre, Sul21

Um dia depois da reunião de dez líderes kaingang do Rio Grande do Sul e Santa Catarina com a Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, em Brasília, cerca de 40 indígenas kaingang e guarani de Porto Alegre e região metropolitana ocuparam o escritório da Sesai, na manhã desta terça-feira (04). Os indígenas chegaram ao local por volta das 9h e pediram que os funcionários se retirassem do local. A ocupação, segundo eles, teria ocorrido pacificamente.

As ocupações começaram na semana passada, quando indígenas guarani, xokleng e kaingang ocuparam o escritório do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), responsável por atender RS e SC, em Florianópolis. Em seguida, um grupo kaingang ocupou o pólo da Sesai/Dsei em Passo Fundo, na região do norte gaúcho, em Chapecó, no oeste catarinense. Na pauta de reivindicações, estão apurações de denúncias de assédio sexual e moral contra servidores indígenas e não-indígenas, de loteamento de cargos, má gestão de recursos e a saída do atual coordenador do Dsei Região Sul, Gaspar Paschoal.

Neste segunda, depois de protestarem em frente ao prédio da Sesai, em Brasília, os indígenas foram recebidos pelo secretário Marco Antônio Toccolini, que prometeu investigar as denúncias com “rigor”, para então decidir sobre a permanência ou saída de Gaspar do cargo. O que os indígenas não aceitam.

Segundo os indígenas de Porto Alegre, as ocupações que ocorrem esta semana “já deveriam ter acontecido há muito tempo”, com a condução que vem sendo dada à saúde indígena. “Esse coordenador assumiu decisões com algumas lideranças, mas não cumpriu nenhuma”, explica Eli Fidelix, conselheiro dos kaingang da aldeia do Lami. “As comunidades vêm cobrando dele, da gestão dele de um modo geral, qual o plano dele na área de trabalho na saúde. Ele não apresenta um modelo até o momento. A nossa saúde, nessas trocas de gestor, coordenador, fica muito prejudicada na base”.

Os indígenas reclamam da alta rotatividade de funcionários que atendem às comunidades indígenas, o que prejudica o trabalho e a relação entre eles. Eles explicam que as trocas frequentes de gestores, que colocam cargos de confiança para trabalhar em funções que vão desde assessores a médicos e dentistas, fazem com que toda vez a política pública voltada a eles tenha que recomeçar do zero. Além disso, o mau uso de recursos destinados pelo governo federal tem causado prejuízos no dia a dia.

“Hoje falta meio que tudo. Por exemplo, estamos com nossos carros que meio que prestam um atendimento para pacientes nas aldeias, buscando para consultas de alta complexidade, levando para hospital, posto de saúde. Mas estamos com os carros sem gasolina. Quando chega essa situação, depende muito do coordenador. É ele que tem que estar adiantando esse tipo de processo, para não cair nessa situação. Nesses pequenos projetos, ele não está dando a atenção, mas se chegar ao lado dele, ainda ele ainda tem um monte de pessoas para indicar em cargos”, relata Eli.

O cacique kaingang Antônio dos Santos, de São Leopoldo, conta que já participou de diversas reuniões com o coordenador. “Ele oferece o cofre inteiro, mas lá na ponta mesmo não gasta nem um real nas demandas da saúde indígena. Tudo isso está acontecendo por culpa de uma pessoa, que não informa os caciques e toma as decisões sem nos consultar”.

Gaspar Paschoal é formado em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai (URI) e tem 23 anos. Ele foi nomeado como coordenador da Saúde Indígena para Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em outubro do ano passado. Os indígenas da região, porém, questionam a nomeação como algo “político”, já que Gaspar não teria histórico de trabalho junto à comunidades indígenas.

Em um documento assinado por várias lideranças, durante reunião realizada em Passo Fundo, no último dia 22, os indígenas pedem a nomeação de João Maria Roque para o cargo. João Roque é um nome aprovado pela maioria das comunidades indígenas da região, por já ter trabalhado junto a elas. Segundo os indígenas, como ex-funcionário da Funai (Fundação Nacional do Índio), Roque não tem uma ligação próxima apenas com uma terra indígena ou reserva, mas com todos.

“Vamos ficar aqui até que eles cedam”, afirma o cacique kaingang Valdomiro Vergueiro, do Morro do Osso, em Porto Alegre.

Imagem: Cerca de 40 indígenas kaingang e guarani ocupam a sede da Sesai, em Porto Alegre, desde a manhã de terça-feira | Foto: Guilherme Santos/Sul21

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