Manifestação de pescadores impede navegação de barcaças da Fibria; impasse

Por Uinderlei Guimarães, Sulbahianews

Integrantes do Movimento Autônomo dos Pescadores Artesanais da Reserva Extrativista de Cassurubá voltaram a obstruir o Canal do Tomba, impedindo a navegação das barcaças de eucalipto.

O movimento já havia realizado uma manifestação no dia 1º de julho, contra a empresa Fibria Celulose S.A. e a Coompescar, cooperativa que segundo os pescadores, seria integralmente financiada por recursos de condicionante ambiental determinada pelo IBAMA, em decorrência dos impactos socioambientais provocados pela dragagem do Canal do Tomba, relacionada às operações portuárias da empresa no município de Caravelas.

De acordo com os pescadores autônomos, os impactos atingem o território tradicional de pesca, afetando aproximadamente 2 mil pescadores, residentes nos municípios de Caravelas, Nova Viçosa e Alcobaça.

No início de julho, durante aproximadamente 12 horas o movimento obstruiu o Canal do Tomba, utilizando as próprias embarcações de pesca artesanal.

O Canal do Tomba é o único local de entrada e saída das barcaças responsáveis pelo transporte das toras de eucalipto à sua fábrica de celulose localizada em Aracruz/ES.

Ainda durante o primeiro manifesto, os pescadores apresentaram uma lista de exigências à empresa, todas elas relacionadas às dificuldades e impedimentos da livre cooperação, que teriam sido impostas pela diretoria da Coompescar, sob a orientação do consultor contratado pela Fibria.

A diretoria da Coompescar atualmente é composta por Hélio Borges, Uilson Alexandre (Lixinha) e Benedito Jorge (Bói) e a consultoria é prestada por Ildeu Linhares Júnior, por meio da sua empresa Controller Assessoria Empresarial Ltda – ME, segundo uma carta aberta divulgada pelo movimento.

O documento diz ainda que no dia 1º de julho, após a Fibria se comprometer a dar uma resposta efetiva as reivindicações, o Canal foi desobstruído, no entanto, depois de uma série de reuniões realizadas ao longo do mês, tanto a Fibria quanto a Coompescar teriam desrespeitado praticamente todos os acordos firmados.

O segundo ato dos pescadores foi iniciado na madrugada de sábado, 22 de julho, com a nova obstrução do Canal Tomba, a manifestação só foi encerrada no final da tarde de domingo, 23, por força de uma liminar.

Nesta segunda-feira, 24, um dos integrantes do movimento disse ao Sulbahianews que os pescadores entrarão com recurso. A liminar teria nomeado quatro líderes dos pescadores, mas de acordo com o integrante, o movimento é autônomo sem qualquer tipo de liderança, “cada um responde por si”, destacou.

As exigências dos manifestantes são:

  • A validação conforme acordada, pela Coompescar do curso de cooperativismo ministrado, pelo Instituto Diversa, em parceria com a UNISOL Bahia e o ICMBio, ou a substituição sumária do consultor Ildeu Linhares Júnior;
  • O depósito imediato da cota parte de cooperação para 100 pescadores, escolhidos pelo grupo;
  • O pagamento do curso ao Instituto Diversa, conforme o acordado;

A contratação imediata de uma auditoria para a Coompescar, acompanhada por especialista em cooperativa escolhido pelo grupo dos pescadores.

Em nota, a Fibria disse que mantém um diálogo aberto com as comunidades pesqueiras e acredita que este é o melhor caminho para o entendimento.

A empresa disse ainda, não concordar com a maneira como foi feito, novamente, o fechamento do acesso ao Terminal de Caravelas, uma vez que se trata de uma medida radical, ilegal e que não respeita o direito de ir e vir.

A Fibria ressaltou que não descumpriu nenhum tipo de acordo com os pescadores e que a Coompescar é autônoma e independente para deliberar sobre os itens reivindicados pelos manifestantes, não sofrendo nenhuma interferência da empresa.

Imagem: Pescadores fecharam canal do Tomba em Caravelas (BA) no último sábado, onde empresa escoa produção de eucalipto / Alan Machado

Enviado para Combate Racismo Ambiental por Ivonete Gonçalves de Souza.

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