Temer quer melhorar imagem via redes sociais. Mas internet não faz milagre, por Leonardo Sakamoto

No blog do Sakamoto

Insatisfeito com a baixíssima aprovação de seu governo (segundo a última pesquisa CNI/Ibope, ela chegou a 5% – menor que o piso de Dilma, Sarney e da nova tomada de três pinos), Temer vai reestruturar sua área de comunicação para redes sociais. Segundo notícia do jornal O Estado de S.Paulo, a ideia é diminuir a rejeição e conquistar apoio para aprovar a Reforma da Previdência.

AGORA, VAI! Ninguém mais segura Temer!

O que indigna é que, a esta altura do campeonato, o governo ainda ache que o problema é falta de comunicação. Se você jogar purpurina em cima de uma moita de musgo, as pessoas vão enxergar o que? Uma jóia de rara beleza ou uma moita de musgo que brilha?

Tempos atrás, entrevistei o dono de uma empresa de consultoria especializada na construção e desconstrução de reputações através de redes sociais. Creio que a avaliação dele, feita sobre períodos eleitorais, cabe como uma luva para este caso.

Para ele, desconstruir reputações é mais fácil, sempre, do que construir. Mas não se desconstrói uma reputação com musculatura em pouco tempo, ou seja, no tempo de uma eleição, por exemplo. A credibilidade de um candidato, o seu patrimônio político, é garantido pela importância do que ele faz e pelo reconhecimento público disso. Esse tipo reconhecimento, estruturado em rede, não se constrói do zero ou se destrói profundamente de um dia para outro.

”Se os políticos fizessem apenas metade do que deveriam fazer já estavam reeleitos. O problema é que gastam milhões durante a campanha eleitoral para convencer os outros que fizeram o que realmente deveriam ter feito. São muito burros”, avalia o especialista.

Uma coisa é segurar a imagem de um candidato durante os poucos meses que duram uma eleição, com doses cavalares de marketing. Outra é garantir que a popularidade permaneça sem que o político entregue rapidamente o prometido. E isso vale também para aqueles que se dizem novatos na política. Do prefeito paulistano Joao Doria, ao presidente francês Eammanuel Macron, passando pelo presidente dos EUA Donald Trump, muitos são os que estão experimentando quedas na aprovação decorrentes do choque entre a expectativa vendida e a realidade vivida.

Com Temer, não poderia ser diferente. Ele pensou que o crescimento econômico faria com que a população fosse pragmática e não se importasse com as denúncias de corrupção, salvando seu grupo político. O problema é que o crescimento não veio, empresários que apoiaram o impeachment em nome de reformas estão impacientes com a entrega parcial da encomenda e a população demonstra sua insatisfação com o desemprego.

O governo comemora que não há gente na rua, mas isso não significa que a insatisfação não esteja no ar. Tanto que ela se traduz na pífia aprovação de 5%. O problema é que existe também um sentimento de desalento generalizado, de que tudo é igual, que nada pode ser feito para mudar. Manter desalento imerso em insatisfação por um longo prazo cria uma bomba relógio de efeito retardado que explode, em algum momento, no colo da democracia.

A baixa popularidade do governo Temer não é decorrente da população não saber quem ele é ou o que vem fazendo, mas, ao contrário, por termos exata noção disso. Denúncias de corrupção envolvendo Temer e o alto escalão de seu governo; formas arcaicas e grotescas de se fazer política, transformando-a em um mercado de parlamentares a céu aberto; uma política econômica que insiste em jogar o custo da crise apenas no colo dos mais pobres, protegendo os mais ricos de impostos sobre riqueza; um trâmite antidemocrático de uma agenda de reformas estruturais que não foi eleita pela sociedade e sobre a qual ela não é chamada a opinar.

Uma grande parte dos trabalhadores não se calou diante da Reforma Trabalhista porque foi convencido pelas propagandas sobre ela, mas porque simplesmente não absorveu o que aquele pacote de 121 mudanças técnicas irá impactar em sua vida, muitas vezes já baseada em trabalho precário. O mesmo não ocorreu com a Reforma da Previdência, em que a maioria da sociedade se põe contra porque compreende todas as suas consequências.

Se quiser ser lembrado como alguém que fez um bem enorme ao país, há um outro caminho mais efetivo do que jogar purpurina na moita: Temer deveria pensar seriamente em renunciar.

E, em seu derradeiro discurso à nação, entregar seus colegas mais próximos, como Eliseu Padilha, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima, Romero Jucá, ou ex-colegas, como Renan Calheiros, e o PMDB como um todo. E contar tudo o que sabe envolvendo a alta cúpula da política nacional desde a redemocratização. Daí, trazer à luz os podres de corrupção envolvendo grandes empresários e os representantes do mercado, do agronegócio ao sistema financeiro, das indústrias ao comércio, de quem constrói estradas até as histórias do porto de Santos.

Sabemos que ele não fará isso. Mas se sonha acordado em lustrar sua biografia sem lastro na realidade, por que não podemos também sonhar acordado com a volta da democracia plena?

Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

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