Agentes ambiental e territorial indígena recebem aparelho para uso do aplicativo “alerta clima indígena” e recebem intercâmbio do povo Kayapó durante a formação para novos ATAIs

Do CIR

A formação dos Agentes Territorial e Ambiental Indígena (ATAI) é um dos relevantes projetos executados há mais de nove anos pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) e que a cada ano avança e traz novos desafios. Nessa perspectiva, após a formação de mais de 250 ATAIs de diferentes etnoregiões, o CIR, novamente, realiza mais uma formação e reúne os novos agentes indicados por suas regiões Raposa, Baixo Cotingo e Murupu.  

A “Formação continuada para novos agentes territorial e ambiental indígena e monitoramento climático” ocorre desde ontem (5), no tradicional Centro Regional Lago Caracaranã, na região da Raposa, Terra Indígena Raposa Serra do Sol. A formação conta com aproximadamente 50 participantes, entre os agentes já capacitados e os novos, homens e mulheres,

A atividade iniciou na terça-feira (5), com a mini oficina sobre o Monitoramento e Vigilância e Fiscalização Ambiental e Territorial, Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental (PNGATI) e Gênero. Os agentes contaram com a palestrante Aglaia Barbosa da Costa e a secretária do Movimento de Mulheres Indígenas do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Maria Betânia Mota de Jesus.

Pela importância de conhecer sobre os direitos indígenas, sobretudo conhecer os caminhos que levam as políticas públicas voltada para a gestão das terras indígenas no contexto ambiental e territorial, os novos ATAIs tiveram ontem(6) a palestra sobre “direitos Indígena e indigenista”, ministrada pela coordenadora do departamento Jurídico do CIR, Joenia Wapichana.

Joenia apresentou um breve esboço da criação do Estado brasileiro, as leis que regem o país, a promulgação da Constituição Federal Brasileira de 1988, os direitos indígenas garantidos nos artigos 231 e 232 e em linhas gerais o direito de consulta conforme a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Umas das novidades da formação para novos agentes territorial e ambiental indígena (ATAI) é o acesso ao aplicativo “alerta clima indígena”, umas das inovações para enfrentar as mudanças climáticas nas terras indígenas. O aplicativo envia informações sobre focos de calor, desmatamento e risco de seca para as TIs da Amazônia brasileira.

Hoje, com a presença do coordenador geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Enock Barroso Tenente, agentes das regiões do Murupu e Raposa receberam os aparelhos destinados para o uso específico do aplicativo. Foram adquiridos nesta etapa 7 aparelhos celulares que serão utilizados pelos agentes e para o uso, será assinado um termo de compromisso.

Enock Taurepang ao recordar a fala de sua mãe, Odete Barroso Tenente, de que “o índio não tem que ter só o arco e a flecha, ele precisa saber atirar”. Então, segundo Barroso, não adianta só ter, precisar saber usar e neste sentido, fez recomendações aos agentes para o uso do aparelho.

“Hoje, parentes, vocês estão recebendo essa informação e essa ferramenta é muito importante, mas precisa saber trabalhar, se não, não adianta. Então, que tenham bom proveito para as suas regiões” recomendou Enock às regiões que receberam o aparelho e sinalizou o desejo que ao final de toda etapa consigam atingir as 35 terras indígenas em Roraima.

Reforçou que diante do cenário de retrocessos, onde se tem um “parlamento corrupto, golpista e que não está ligando para o direito do cidadão, seja indígena ou não indígena”, é preciso se movimentar nas terras indígenas, sempre na perspectiva do bem viver das comunidades indígenas.

Valdina Mendes Silva, 44 anos, com mais de 10 anos na função de Tuxaua da comunidade indígena do Macacao, região da Raposa, foi uma das novas agentes que recebeu o aparelho e destaca com alegria a conquista de mais um aprendizado e que segundo ela, apesar de saber mexer no celular, vai buscar aprender com as filhas que já acessam e assim, aprender a manusear e acessar o aplicativo. “Eu preciso aprender, gostei muito, então vamos atrás de aprender para poder alcançar o nosso objetivo, pois é um celular que não é de uso particular, e sim, para trabalhar no monitoramento da nossa terra” contou a Tuxaua sobe a novidade de ser uma das agentes multiplicadoras de informação e uso do aplicativo alerta clima indígena.

Na tarde de ontem, a pesquisadora do Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazônia (IPAM), Ana Carolina Crisostomo apresentou a plataforma do aplicativo que ainda está em processo de ajustes e adequações.

A formação conta com o intercambio dos brigadistas indígenas de incêndio florestal Routi Metuktire, Barikai Mekragnatire e Karanhim Metuktire, do povo indígena Kayapó, da Terra Indígena Capoto Jarina, estado de Mato Grosso. Representantes do Instituto Raoni também participam da atividade de formação dos novos ATAI para apresentar as experiências da fiscalização, monitoramento e enfrentamento as mudanças climáticas em Capoto Jarina.

Routi Metuktire Kayapó, um dos membros do intercambio, da aldeia Piaraçu, a segunda maior da Terra Indígena Capoto Jarina, território com aproximadamente 1200 indígenas e divida por 12 aldeias conta o que trouxe de experiência para o estado de Roraima e o objetivo de estar em uma realidade diferente da sua região.

“Trouxe comigo, 2 jovens, que fazem parte de uma equipe que se preocupa com a fiscalização, mudanças climáticas e se preocupa com a comunidade. E o nosso objetivo aqui é conhecer uma realidade que é um pouco diferente da nossa, porque aqui foi uma área de conflito, retomada e a gente fica curioso de saber como atualmente estão os nossos parentes” destacou Metuktire ao comparar o processo de demarcação das terras indígenas no estado de Mato Grosso e que segundo ele, não foi tão perigoso quanto em Roraima, na TI Raposa Serra do Sol.

O intercâmbio também tem como finalidade a socialização dos conhecimentos sobre o aplicativo “alerta clima indígena”. “A gente também veio aproveitar esse momento para conhecer o aplicativo que vai nos ajudar nessa questão de mudanças climáticas e vigilância do nosso território” destacou Routi sobre a importância do aplicativo que vem para contribuir na vigilância e fiscalização das terras indígenas, ajudar no enfrentamento as mudanças climáticas, ações que segundo ele já fazem há mais de 10 anos.

Metuktire contou que desde 2006 existe o trabalho de uma equipe autônoma, criada a partir da preocupação das lideranças tradicionais da terra indígena Capoto Jarina e que apesar das dificuldades encontradas ao longo da caminhada, viram que é preciso capacitar os mais jovens para que possam cuidar do que é seu, a terra indígena. “O governo a cada dia diminui, quer diminuir as nossas terras, então a gente precisa estar preparado, conhecer um pouco das leis e de como cuidar daquilo que é nosso” manifestou Routi preocupado com as ameaças e retrocessos que afetam os direitos indígenas.

Sobre o aplicativo, conforme divulgado pelo Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazônia (IPAM), idealizador da ferramenta, já foi apresentado para mais de 100 indígenas e outras instituições, e quando disponível e finalizado poderá ser utilizado no monitoramento dos impactos em seus territórios e assim, criar condições favoráveis para se adaptarem às adversidades do clima.

O projeto foi um dos vencedores do prêmio Desafio de Impacto Social Google 2016, que realizou cerimônia no dia 14 de agosto em São Paulo para a apresentação dos 10 contemplados. O app faz parte do SOMAI – Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena, plataforma que dispõe das informações mais atuais sobre a situação das mais de 380 terras indígenas da Amazônia, a área conservada de floresta e as ameaças ambientais e antrópicas que sofrem.

Em um período prolongado de seca, as comunidades podem se prevenir melhor para a ocorrência de incêndios, por exemplo. Em 2016, houve 89 mil focos de incêndio na Amazônia, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). “Mesmo assim, não havia nenhum sistema de alerta para que os povos indígenas pudessem se preparar. Com o projeto, os agentes ambientais da Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, foram os primeiros a testar o aplicativo, e estão recebendo informações frequentes sobre o risco de fogo”, afirma a coordenadora do núcleo indígena do IPAM, Fernanda Bortolotto.

Em modo offline, as informações também ficam acessíveis e os indígenas podem monitorar seus pontos de interesse e registrarem seus alertas mesmo quando não têm conexão disponível. O aplicativo também tem outras funções importantes para o monitoramento do território feito pelos indígenas, que futuramente poderão ser enviados para uma base de dados e auxiliar no planejamento de ações locais. Por enquanto, as informações coletadas ficam armazenadas no aplicativo e não são compartilhadas.

O aplicativo, em exposição no Museu do Amanhã, na mostra temporária Inovanças, está em sua versão beta e, após as validações necessárias com as organizações parceiras, será finalizado e disponibilizado para todos.

Cerca de 110 milhões de hectares da floresta amazônica são atualmente protegidas em forma de Terras Indígenas, onde vivem aproximadamente de 430 mil indígenas. O projeto conta com apoio de três organizações indígenas locais para sua construção, o Conselho Indígena de Roraima, o Instituto Raoni e a COCALITIA (Comissão de Caciques e Lideranças da Terra Indígena Arariboia – MA), além de outras parcerias institucionais. Confira: http://ipam.org.br/aplicativo-alerta-clima-indigena-auxilia-no-combate-as-mudancas-climaticas/.

A formação encerra nesta quinta-feira (7) com a palestra sobre mudanças climáticas, monitoramento do clima (aula de campo para o teste do app), apresentação do aplicativo “alerta clima indígena” e o intercâmbio dos brigadistas indígenas de incêndio florestal, Routi Metuktire, Barikai Mekragnatire e Karanhim Metuktire, do povo indígena Kayapó, da Terra Indígena Capato Jarina, estado de Mato Grosso.

Esta atividade conta com a parceria do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Universidade Federal de Roraima (UFRR) e das entidades parceiras do CIR, Tebtebba, Embaixada da Noruega e CAFOD.  Fazem parte da equipe de execução, a gestora ambiental e coordenadora do departamento Ambiental e Territorial do CIR, Sineia Bezerra do Vale, o Técnico de Sistema de Informação Geográfica (SIG), Genisvan André, e as pesquisadoras do IPAM, Isabel Mesquita e Ana Carolina Crisostomo, além de toda equipe de logística do evento.

Valdina Mendes Silva, 44 anos, com mais de 10 anos na função de Tuxaua da comunidade indígena do Macaco, região da Raposa, foi uma das novas agentes que recebeu o aparelho. Foto: Mayra Wapichana

Fonte: Ascom/CIR

 

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