No Brasil insano, um embrião vale mais do que uma mulher, por Leonardo Sakamoto

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O ensino de uma única religião em escolas públicas é aprovado pela Suprema Corte. Porém, o que choca mesmo é um professor tratar de racismo, machismo e xenofobia em sala de aula.

Filmes na TV trazem mortes cruéis e assassinatos em massa diariamente. Mas abominação é um tímido beijo gay em uma novela.

Crianças vendem toalhinhas de cozinha em semáforos de São Paulo ou Rio. Contudo, tragédia é um menino que gosta de brincar de boneca.

Uma mulher quase morre após um aborto precário feito por conta da proibição legal. Mas há quem diga que ela ”teve o que merecia”, dando mais importância ao embrião.

A escola não tinha merenda e, além disso, os jovens usavam folhas de caderno no lugar de papel higiênico. Escândalo, porém, é quando resolvem ocupar o colégio por comida e condições de estudar.

Religiões de matriz africana tem sido atacadas como ”manifestações do diabo” e proibidas em comunidades pobres. Por traficantes, com fuzis em punho, sob ordem de alguns pastores que roubam e enganam seus fiéis.

Bebidas alcoólicas causam mais mortes e desagregação social que qualquer outra droga e produtos ultraprocessados cheios de sal e conservantes funcionam como uma bomba-relógio no organismo, tudo nas gôndolas dos supermercados. Mas o problema para a saúde da sociedade é a maconha.

Há um mundo de fazendas em que se planta apenas vento. Nas cidades, prédios vazios servem à especulação imobiliária, acumulando dívidas em impostos. Mas o povo fica horrorizado só com a ocupação de imóveis por movimentos sociais.

Uma mulher negra ganhar muito menos que um homem branco pela mesma função é normal. O que envergonha são as cotas.

Crianças amargam o abandono em orfanatos,muitas delas sendo devolvidas porque seus novos pais não se ”adaptaram” a elas. Contudo, defende-se que melhor o abandono do que ser adotado por um casal homoafetivo.

O Brasil precisaria de uma revisão urgente em suas prioridades. Pois o que choca por aqui não são as tragédias sociais, mas o questionamento da ordem estabelecida – por mais injusta que ela seja. A sociedade aceita o cabresto porque parece ter medo de se libertar do próprio medo. A ignorância, afinal de contas, segue sendo um lugar quentinho.

O pior é que desponta no horizonte nuvens muito escuras. Parecem de tempestade.

Comments (1)

  1. Ao ler esses relatos fico muito triste, pois concordo com todos eles. Ma realidade temos uma inversão de valores pensada e executada, que faz com que as pessoas dominadas,agredidas e violentadas, pense e falem o interessa a seus agressores.

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