Câmara dos Deputados recebe laudo que atesta péssima qualidade do rio Doce

Manaira Medeiros, Século Diário

Está nas mãos dos deputados federais da comissão externa que apura o crime da Samarco/Vale-BHP, na Câmara dos Deputados, o laudo da Fundação SOS Mata Atlântica que considerou de péssima qualidade a água do rio Doce em 650 quilômetros de extensão – de 853 ao todo. O estudo é resultado da expedição realizada pela entidade após o rompimento da barragem em Mariana (MG).

O documento foi entregue ao presidente da comissão, deputado Sarney Filho (PV-MA), pelo diretor de políticas públicas da SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, e pela coordenadora da Rede das Águas, Malu Ribeiro.

Os pesquisadores defenderam a realização de novos laudos independentes para acompanhar a situação do rio Doce e dar suporte às ações de recuperação de médio e longo prazo para a bacia. A entidade cobra ainda atuação das autoridades para impedir o desmonte do Sistema de Meio Ambiente, a flexibilização das leis, como o Código de Mineração e o licenciamento ambiental brasileiro, que, segundo ressaltam, dão margem a tragédias como a ocorrida em Mariana.

Com a entrega do documento, os pesquisadores esperam que os deputados considerem os resultados na elaboração do relatório final da comissão externa.

“O estudo desmente um discurso meio oficioso de que não havia metais pesados em níveis que pudessem ameaçar a saúde humana”, considerou Sarney Filho.

A água foi analisada em uma expedição que percorreu 650 quilômetros do rio Doce, entre os dias 6 e 12 de dezembro, um mês após o rompimento da barragem.

Ao todo, foram analisados 18 pontos entre Minas Gerais e Espírito Santo – Colatina e Linhares – e coletados 29 amostras de lama e água para análise em laboratório. Desses, 16 apresentaram o Índice de Qualidade da Água (IQA) péssimo e dois obtiveram índice regular.

Malu Ribeiro, que coordenou a pesquisa, considerou péssima a condição ambiental do rio Doce. “Em todo o trecho percorrido e analisado por nossa equipe a água está imprópria para o consumo humano e de animais”, reforçou. A situação, como pontua a pesquisadora, tende a piorar, já que as chuvas arrastaram ainda mais lama para o leito do rio.

Resultados

O estudo, divulgado no último dia 26, apontou que a turbidez e o total de sólidos em suspensão estão em concentrações muito acima do que estabelece a Resolução Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) 357/05 para rios classe II, que é o caso do rio Doce.

A turbidez variou de 5.150 NTU (unidade matemática utilizada na medição) na região de Bento Rodrigues e Barra Longa, à 1.220 NTU em Ipatinga (MG), aumentando gradativamente até a região da foz, em Regência, no Espírito Santo, onde registrou 1.505 NTU.

Nos dois pontos do rio avaliados em Colatina, o índice de turbidez foi de 1.650 e 1.580 (Bela Vista) NTU. Já na cidade de Linhares, foi registrada turbidez de 1.620 NTU. O máximo aceitável são 40 NTU.

As análises também apontaram para a presença de metais pesados no rio Doce, com destaque para o magnésio, cujos índices ultrapassaram o que determina a legislação – 150 mg por litro – em todos os 18 pontos do estudo. Nos pontos no Estado, os números atingiram as marcas de 160 (Colatina), 166 (Boa Vista), 168 (Linhares) e 166 (Regência).

Já o cobre, alumínio e manganês foram encontrados em cinco, quatro e oito pontos, respectivamente, porém todos em cidades mineiras atingidas pelos rejeitos. Os níveis de cálcio e ferro, de acordo com o estudo, estavam dentro dos padrões.

O resultado da expedição ressalta ainda que as águas analisadas em todos os pontos são consideradas “duras”, ou seja, com teores acima de 150 mg/l de cálcio e magnésio – a “água mole” são as que possuem concentrações abaixo de 75mg/l. Apesar disso, são consideradas potáveis, porque a Portaria do Ministério da Saúde 518/2004 coloca como padrão de potabilidade a dureza com limite até 500 mg/l.

Os pesquisadores da SOS Mata Atlântica também encontraram nas análises microbiológicas quatro grupos de bactérias, que podem gerar doenças como gastroenterite, infecção urinária e respiratória, dores abdominais e disenteria bacilar. Isso ocorre por meio do consumo da água ou de alimentos contaminados.

Imagem: Vista aérea da barra do Rio Doce mostra que os resíduos liberados no rompimento da Barragem do Fundão, em Bento Rodrigues, ainda continuam causando estragos para o meio ambiente (foto: Leandro Couri /EM/D.A Press )

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