“Saneamento básico é a solução para combate à zika”, diz especialista

Para Lia Giraldo, pesquisadora da Fiocruz, a doença deve ser combatida com a ampliação do esgotamento sanitário

Mariana Pitasse, Brasil de Fato

Os casos de zika não param de crescer pelo país. Somente no estado do Rio de Janeiro, o número de registros da doença aumentou quase seis vezes em uma semana, passando de 4.289 em 22 de março para 24.600 em 1º de abril. Desse total, 17.799 casos foram confirmados e 105 descartados, segundo o boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde.

A melhor estratégia para combate aos criadouros do mosquito, segundo a pesquisadora Lia Giraldo da Fiocruz, é a ampliação do programa de saneamento básico: esgotamento sanitário, tratamento do lixo, drenagem dos solos e, principalmente, abastecimento de água. Cerca de 90% dos criadouros são reservatórios caseiros de água, utilizados pelas populações mais pobres, que não possuem cisternas nem caixas d’água protegidas. Dessa forma, a água é armazenada em baldes, latas, tonéis e tanques expostos ao mosquito.

“A incidência de dengue, zika e chikungunya é maior nas populações mais pobres pela falta de infraestrutura dos bairros onde moram e também pela vulnerabilidade da saúde, devido ao maior contato com os pesticidas. O saneamento é a saída não só para essas doenças mas para tantas outras. A responsabilidade não é do indivíduo como apontam as campanhas e sim do poder público”, afirma.

Veneno

Para a pesquisadora, a doença ainda continua se espalhando porque está sendo combatida de forma inadequada. “Por recomendação da OMS, nossa população se expõe a venenos cada vez mais potentes, que só têm atingido à nossa saúde e não ao mosquito. A epidemia de dengue que persiste todos os anos, e agora a zika, nos mostra que essa tática não adiantou nada”, explica, destacando que, além da ineficácia e dos ricos à saúde população, os pesticidas também têm altos custos de investimento que poderiam ser melhor utilizados.

Aedes pode não ser principal vetor do zika, mostra pesquisa

Pesquisas recentes, realizadas pela Fiocruz de Pernambuco, mostram que o aedes aegypti pode não ser o principal vetor do zika vírus, mas sim o culex, que é um mosquito comum, conhecido como muriçoca ou pernilongo. O problema apontado por essa nova descoberta é que o culex se reproduz não só em água limpa, como o aedes, mas também põe ovos em água suja e esgotos. Dessa forma, a doença pode se alastrar de forma mais rápida.

Microcefalia

De acordo com a pesquisadora, a relação da microcefalia e o zika vírus ainda não pode ser afirmada, mas resultados das pesquisas da Fiocruz de Pernambuco estão caminhando para a confirmação. “Estamos diante de uma doença séria, que precisa ser tratada com mais urgência. As vacinas são realidades distantes, pois exigem anos de pesquisa. A vacina da dengue foi descoberta, mas ainda não é viável, em termos de custo para vacinação em massa. A solução urgente é o saneamento básico. Ou enfrentamos essa doença com saneamento ou teremos que conviver com ela para sempre. Precisamos exigir uma política pública de saneamento eficaz”, conclui a pesquisadora.

Imagem: Arquivo/Agência Brasil

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