Sabotagem em estrutura deixa indígenas sem água e fazendeiros os impedem de acessar o São Francisco

No Cimi

A sabotagem da principal bomba d’água que abastece a aldeia do povo Truká-Tupã no Alto do Aratikum, município de Paulo Afonso, na Bahia, no início dessa semana, levou a comunidade a trancar a principal via de acesso da zona rural da região por algumas horas nos últimos dias. Um incêndio, denunciado pelos indígenas como de origem criminosa, interrompeu o abastecimento de água ao povo; o plantio de hortaliças, principal cultivo e fonte de renda da comunidade, está prejudicado. Por outro lado, fazendeiros impedem os indígenas de acessarem o rio São Francisco em busca de água e peixe.

Conforme o vice-cacique Adriano Rodrigues, a falta de regularização fundiária do território tradicional motivou o ataque. Grupos da região contrários à demarcação têm adotado estratégias violentas contra o povo. “A perícia da polícia esteve conosco no local e já sabe que o incêndio foi provocado por gente aqui de perto da aldeia. O caso foi passado pra Polícia Federal e estamos aguardando. Como a gente não consegue chegar ao rio, tá ruim de água”, explica o vice-cacique.

O indígena Truká-Tupã explica que o povo não tem acesso ao rio São Francisco porque fazendeiros da região não permitem. Quilômetros são cercados com arame farpado impedindo ainda uma atividade tradicional do povo: a pesca, fonte de renda e alimentação. Os bombeiros, inclusive, tiveram dificuldades para controlar e apagar o incêndio devido a quantidade de cercas que impediam a passagem e foram derrubadas para que os agentes pudessem ir ao encontro do fogo.

Desde 2013, uma decisão liminar do Ministério Público Federal (MPF) para que a Fundação Nacional do Índio (Funai) proceda com a demarcação segue sem ser cumprida pelo governo federal. O povo, composto por 36 famílias, reivindica 114 hectares de terra indígena. Sem a garantia do direito constitucional, os indígenas ficam vulneráveis a violências e impedidos de usufruir de forma equilibrada do rio, das terras e matas.

“São terras consideradas devolutas, ou seja, dos nossos antepassados. Só teremos melhorias quando nosso território for de fato livre dessas ameaças e da negligência do Poder Público. A Funai precisa urgente garantir nosso território”, diz trecho de comunicado do povo Truká-Tupã divulgado pela Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP), entidade que assessora e acompanha o povo em suas reivindicações. Com a situação da ocupação territorial do povo precarizada pelo Estado, serviços de saúde e educação não chegam à aldeia. Os protestos pediram também melhoras em tais políticas públicas.

A coordenadora da Funai de Paulo Afonso Ive Daniela Guimarães Leal esteve com os indígenas e os acompanhou ao distrito policial para registrar ocorrência. Com outros servidores do órgão indigenista, a coordenadora interveio junto aos indígenas para a liberação da estrada vicinal. Aos indígenas ela prometeu levar a demanda da demarcação territorial para Brasília, mas disse que a conjuntura política do país tem mantido o órgão em mal estado. Os Truká-Tupã seguem em vigília na aldeia pois temem novos ataques.

Fotos: Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP)

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