Em livro, historiadores repudiam impeachment de Dilma e alertam para riscos à democracia

‘Historiadores pela democracia: o golpe de 2016 e a força do passado’ reúne textos, entrevistas e depoimentos sobre atual cenário político brasileiro’

Por Patrícia Benvenuti, no Opera Mundi

“Um exercício de história imediata” para refletir sobre os acontecimentos envolvidos no processo de impeachment de Dilma Rousseff e alertar as futuras gerações sobre os riscos do afastamento de uma presidente democraticamente eleita. Essas são as bases do livro “Historiadores pela democracia: o golpe de 2016 e a força do passado”, que reúne textos, entrevistas e depoimentos de intelectuais sobre o atual cenário político brasileiro.

“Os olhares sobre a crise aqui registrados são, antes de mais nada, plurais, mas guardam um denominador comum: a convicção, construída a partir de um raciocínio historiográfico, de que nossa democracia corre risco”, diz o prefácio do livro, que será lançado neste sábado (27/08), em Brasília.

Organizada pelas historiadoras Hebe Mattos, Tânia Bessone e Beatriz G. Mamigonian, a publicação é composta de textos que permitem uma “crônica compreensiva dos acontecimentos, do ponto de vista histórico”, escritos por historiadores com carreira consolidada e jovens profissionais da área.

O movimento que deu nome ao livro surgiu em abril de 2016 com o objetivo de reunir historiadores que vinham se manifestando publicamente contra o processo de impeachment de Dilma, qualificado como golpe de Estado no livro. Dentre os autores, estão Sidney Chaloub, Luiz Felipe de Alencastro, James Green, Luiz Carlos Villalta, Kátia Gerab Baggio, Martha Abreu, Silvia Hunold Lara e Suzette Bloch.

Perplexidade e reflexão

Em entrevista a Opera Mundi, Sidney Chalhoub, professor de história do Brasil da Universidade de Harvard, afirma que a publicação apresenta “a perplexidade e a reflexão de historiadores diante do golpe”. “Foi uma surpresa atrás da outra”, disse Chalhoub em referência ao processo de impeachment de Dilma. “Ninguém estava preparado para lidar com a fragilidade do sistema democrático brasileiro”, acrescenta.

O professor atribui o golpe, como qualifica o processo, a uma aliança entre o PSDB – partido que perdeu as últimas quatro eleições presidenciais e “resolveu recorrer no tapetão, como se diz no futebol” – e a mídia corporativa, “fiel aos princípios golpistas de sempre”.

Apesar da perplexidade com os acontecimentos, Chalhoub entende que o cenário brasileiro não é uma surpresa para os historiadores, acostumados a estudar casos mais antigos, como o golpe civil-militar no Brasil em 1964, até episódios mais recentes na América Latina, onde “golpe por meio de impeachment se tornou rotina”.

Chalhoub afirma que os historiadores devem continuar a “alertar para a falta de novidade no processo”, além de manter a vigilância constante e o movimento de “resistência”. “Se não houver resistência, não se sabe até onde os golpistas podem ir”, diz o professor. “Achar que o processo está consolidado com o afastamento da presidente pode ser um erro crasso”, completa.

A Opera Mundi, James Green, historiador de estudos latino-americanos e professor da Universidade de Brown (EUA), diz que o livro mostra a reprovação de intelectuais diante do afastamento de Dilma do cargo. “Grandes setores da intelectualidade brasileira acham que impeachment é farsa”, afirma.

O historiador, que escreveu em maio uma carta ao representante dos EUA na OEA (Organização dos Estados Americanos), Michael Fitzpatrick, pedindo para que seu país não repetisse o “erro” de 1964, afirma também que é preciso “deixar claro para a população brasileira que o impeachment foi um procedimento equivocado e antidemocrático”.

“[O impeachment] não derruba só o voto de 54 milhões de pessoas [que elegeram Dilma], mas todo um processo democrático”, avalia.

Serviço:

“Historiadores pela democracia: o golpe de 2016 e a força do passado”
Editora Alameda

Lançamento: sábado, 27 de agosto
Horário:  Das 16h às 18h
Local: Memorial Darcy Ribeiro
Endereço: Campus Darcy Ribeiro, s/n, Asa Norte, Brasília-DF

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