Por que, há cem anos, os círculos intelectuais e artísticos mais férteis da Europa eram cegos para o resto do mundo e a guerra em que mergulhariam. Como tudo isso se repete hoje
Por Boaventura de Sousa Santos, Outras Palavras
Estamos em 1913, no centro da vida cultural e política da Europa, um centro que passa fundamentalmente por Viena, Berlim, Praga, Paris, Munique e, à distância, Londres. As elites culturais alimentam incessantemente a sua ilustração nos jornais, folhetins e saraus literários, nas galerias de arte, nos concertos, nas tertúlias de café. Estão febrilmente a par da atualidade cultural e artística e seguem com alguma distância a atualidade política, bem menos excitante. Mas há, entre essas elites, jovens revolucionários que, na clandestinidade, vão preparando tempos novos. É um tempo que se imagina como sendo de enorme criatividade, de inovações e irreverências que rompem com as rotinas, as inércias, as convenções. É o novo século em plena efervescência da primeira juventude. (mais…)