Dois anos exatos após o maior crime ambiental do Brasil, mídia esconde outro crime: as manobras de duas mega-corporações globais para esconder sua responsabilidade e permanecer irresponsáveis como sempre
Reportagem de Arthur Viana* – Outras Palavras
A moto de Paula rasgava as ruas de Bento Rodrigues uma última vez; logo não haveria mais nada ali. Corre que a barragem estourou!, gritava ela, junto ao barulho de sua buzina e a outro que parecia turbina de avião – o som da lama chegando para varrer o pequeno distrito do mapa[1]. Era pouco mais de quatro da tarde, porém a história do rompimento da barragem de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, cidade de Mariana, estado de Minas Gerais, Brasil, não começa nem ali e nem naquele momento. Afinal, para a lama descer, a barragem teve que romper e uma barragem não rompe facilmente – ou ao menos não deveria. Contudo, essa, a do Fundão, responsabilidade da empresa Samarco S.A., estourou em 5 de novembro de 2015, configurando um dos maiores crimes socioambientais da história da humanidade, o maior já registrado no Brasil e o maior envolvendo mineração no mundo. Ao subir o morro no qual se refugiou após salvar sabe-se lá quantas vidas desavisadas, é isso que Paula viu, e faça o esforço de imaginar: 62 milhões de metros cúbicos de lama com rejeitos de minério, quantidade que se estima ter escorrido dos depósitos rompidos da Samarco[2], indo em direção a casas, animais, à cidade toda. Assustador. A quem teve tempo, restou correr – mas correr para onde? (mais…)
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