O discurso aparentemente progressista de que o combate à criminalidade deve vir acompanhado de medidas de integração econômica gira em falso. Tanto esquerda quanto direita se enredam na mesma contradição quando não percebem que as medidas adotadas pelo governo atual são a oficialização de um processo anterior objetivamente em curso de desintegração da socialização baseada no trabalho.
Por Maurilio Lima Botelho*, no Blog da Boitempo
“O que nós precisamos no Estado do Rio é de muita segurança, e o senhor está nos concedendo, está nos ajudando, está nos auxiliando, está sendo parceiro nosso. Mas nós precisamos muito é de emprego, presidente. A gente só ganha a guerra da segurança pública com uma carteira assinada de trabalho. E todos os trabalhadores querem ter a sua carteira assinada.” (Luiz Fernando Pezão, 20 de fevereiro de 2018).
As palavras do governador do estado do Rio de Janeiro foram proferidas em um evento da Marinha do Brasil, com a presença de Michel Temer, poucos dias após a assinatura do decreto de intervenção federal na segurança estadual. Essa afirmação salta aos olhos por sua evidente “contradição performativa”. Uma figura da política brasileira declara a insuficiência do combate ao crime, por via militar, em nome da geração de emprego formal, num momento imediatamente posterior à eliminação das últimas condições de reconhecimento oficial do trabalho regular. Poucos meses após o governo federal ter desferido o golpe de misericórdia na carteira de trabalho, apelar para esta, em nome de uma integração social capaz de evitar a violência generalizada, é tão coerente quanto o autoelogio da disciplina fiscal em meio a uma explosão de endividamento. O discurso aparentemente progressista de que o combate direto à criminalidade deve ser acompanhado de medidas de integração econômica e geração de empregos – presente na boca e no texto de quase todo político e articulista de jornal de grande circulação hoje – gira em falso. (mais…)