por Carla Souza*, em RioOnWatch
Desde muito pequena aprendi sobre o assédio feminino, abordagem policial, racismo, segregação e genocídio. Estas lições não apareciam com estes nomes acadêmicos. Para as crianças da favela estes conceitos estão presentes nas orientações do “manual de sobrevivência (oculto) de vidas marginalizadas”, ensinados desde muito cedo nas casas periféricas. Os ensinamentos táticos são nada mais que um conjunto de cuidados que envolve a roupa, ou o perigo de correr à noite, ou ainda habituar-se a ver madames prendendo as suas bolsas quando um jovem negro passa por elas.
Aos 13 anos tive a primeira e a mais forte das lições sobre o genocídio: a chacina de Vigário Geral. Foi um estarrecedor divisor de águas na minha vida. A gente pode morrer de muitas maneiras quando se tem uma pele preta, até mesmo em casa vendo TV. Lembro de pedir minha mãe para colocar grades na janela e de me assustar com barulhos nas portas. Aos 13 anos, aprendi o que era ter medo e desde então esse sentimento oscilava e norteava muitas das minhas escolhas. Qualquer grito nosso era visto como choramingos do vitimismo, porém, os números são fatidicamente exatos: somos estatísticas de morte desde o começo da diáspora africana. (mais…)
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