O governo Lula quer ampliar o cadastro na terra indígena, mas é preciso adaptar o programa de transferência de renda às realidades dos diferentes povos para que não se torne mais um vetor de violências
por MARCELO MOURA, em Sumaúma
O rio Demini percorre a porção central da Terra Indígena Yanomami. Nasce ao pé das montanhas que se erguem perto da fronteira do Brasil com a Venezuela. E desce vagaroso, curvando-se para contornar as serras do Aracá até desaguar no rio Negro, próximo à cidade de Barcelos, no Amazonas. Suas curvas e corredeiras compõem o caminho dos Yanomami que viajam para a cidade para acessar os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. É na calha do Demini que fica a comunidade Maxokapiu, onde pude conviver com os Yanomami ao longo de muitos meses, em diversas viagens de 2018 até hoje, e observar de perto o progressivo impacto do Bolsa Família e de outras iniciativas governamentais no chão da floresta. Na contramão dos bons resultados de programas de transferência de renda em diferentes regiões do país, da forma como foi pensado e como de fato chega aos Yanomami e a muitos outros povos indígenas no Brasil, o Bolsa Família pode criar mais problemas do que soluções. (mais…)