Por que o Brasil dos sem-teto está tão distante do país dos operários do ABC, embora alguns personagens pareçam se confundir? Como manter a esperança e dialogar com os invisíveis, em meio à maré baixa?
Por Felipe Calabrez, em Outras Palavras
Quando Guilherme subiu para discursar naquele caminhão numa noite fria, com sua voz rouca, não pude não lembrar de Lula no ABC do início dos anos 80. Começava o apagar das luzes da ditadura militar e o processo de industrialização forçada com anos de crescimento econômico que ultrapassaram a casa dos 10% do PIB ao ano haviam formado, ao redor da maior cidade do país, a clássica classe operária. Naquele momento, a convergência entre intelectuais marxistas, entusiasmados em ver a materialização de sua categoria analítica central, e operários sindicalizados, que não precisaram ler Marx para sentir na pele os anos de arrocho salarial e a corrosão de seu poder de compra diante da inflação, formou o que se tornaria o maior partido de esquerda da História do país, o Partido dos Trabalhadores
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