Câmara: um nome que esconde as deputadas

Casa legislativa brasileira traz a marca do patriarcado em sua nomenclatura oficial, o que reflete o baixo percentual de mulheres eleitas. Rebatizá-la será parte do processo de reconstrução nacional. Chile mostra a força deste ato político

Por Juliana Romão, em Outras Palavras

Fevereiro abre ano legislativo e nacionalmente parlamentares tomam posse dos mandatos num Congresso em reabilitação pós-destruição dos atentados antidemocráticos da extrema-direita.  Entre as tantas urgências a deliberar, uma que toca o plano linguístico e, apesar de mais silenciosa, é também uma emergência democratizadora. Trato da re-nomeação da constitucionalmente chamada Câmara dos Deputados para Câmara Federal ou Câmara das Deputadas e dos Deputados, tema inadiável e entrelaçado ao simbolismo do Brasil real que subiu a rampa do Planalto inaugurando 2023. Uma oportunidade histórica.  (mais…)

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Silvia Federici: “O capitalismo ameaça a nossa reprodução, envenenando o solo, as águas”

Confira entrevista com a filósofa Silvia Federici, que virá ao Brasil em outubro, sobre a possibilidade de um renascimento da caça às bruxas e o papel do capitalismo no esgotamento da terra e dos seres humanos

por Susana de Castro*, Le Monde Diplomatique Brasil

Existiria um renascimento da ‘caça às bruxas’? A ideologia do ‘feminismo natural’ sedimenta a exploração do trabalho feminino? Há vias de transformações possíveis em meio às formas capitalistas de produção e reprodução? Alicerçada nestes questionamentos, esta entrevista com a intelectual feminista Silvia Federici, autora de Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva (Editora Elefante, 2019), aborda os limites do capitalismo e o resultante esgotamento dos seres humanos, mas também aponta para o que acredita serem formas de “reprodução em comum”, caminhos mais cooperativos experimentados por mulheres na organização das atividades reprodutivas. Federici estará no Brasil para participar do XIX Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (Anpof), que acontece entre os dias 10 e 14 de outubro, na cidade de Goiânia. (mais…)

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O supremacismo branco, segundo bell hooks

Pensadora vê nesta ideologia a síntese das opressões de raça, gênero e classe. E provoca, em livro recém-lançado no Brasil: antirracismo e feminismo podem ser capturados se, mais que transformar o mundo, buscarem ser reconhecidos*

Por bell hooks, no Outras Palavras

Nos últimos anos, meu trabalho tem se debruçado sobre o papel do amor no combate à dominação. Contemplar os fatores que levam as pessoas a lutar por justiça e a se empenhar em construir uma comunidade me instigou a pensar criticamente sobre o lugar do amor. Não importa se a questão é acabar com o racismo, o machismo, a homofobia ou o elitismo de classe — quando entrevisto pessoas sobre o que as leva a superar o pensamento e a ação dominadores, elas invariavelmente falam de amor, de aprender a aceitar as diferenças em alguém com quem se importam. Falam do enorme desafio de desejar a conexão e a união com alguém radicalmente diferente ou que tenha convicções e opiniões tão distintas que represente uma fonte de estranhamento e conflito, a tal ponto que apenas uma contínua vigilância crítica e cuidadosa pode garantir o contato duradouro. Para muitos desses indivíduos, o que os tem impulsionado na direção do pensamento crítico e da mudança é o envolvimento ativo com movimentos que lutam pelo fim da dominação.

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