Desde que a Norte Energia, a dona de Belo Monte, fez do Xingu sua caixa-d’água particular, o rio se tornou imprevisível, com grande impacto no cotidiano dos moradores humanos e não humanos. Indígenas, pescadores e ribeirinhos passaram então a monitorar o comportamento do Xingu todos os dias para ajudar o Ibama a tomar a melhor decisão sobre a renovação da licença de operação da hidrelétrica
por HELENA PALMQUIST, ALTAMIRA/PARÁ, em Sumaúma
O caminho até a piracema é longo e tortuoso. A mata de igapó não está alagada, mas muito úmida. O solo, recoberto por folhas, fica escorregadio e é preciso atenção para subir e descer os pequenos barrancos onde as águas do rio Xingu recortam o terreno em dezenas de pequenos córregos, que na Amazônia são chamados de igarapés. Raimundo da Cruz e Silva, de 47 anos, faz esse percurso todos os dias para verificar se a água subiu ou desceu e se os peixes estão se reproduzindo. Ele confere a altura das águas em réguas instaladas no perímetro, faz fotos e grava vídeos e áudios daquela que chama de “minha piracema”. Raimundo é um dos 12 pesquisadores ribeirinhos e indígenas que monitoram os impactos da hidrelétrica de Belo Monte sobre os ecossistemas do rio. Ao lado de pesquisadores acadêmicos de várias universidades brasileiras, eles integram o Observatório da Volta Grande do Xingu, um trabalho independente que tem produzido a análise ambiental mais acurada dos impactos da usina sobre a vida no rio. (mais…)
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