Argentina, Chile, Peru… Lá, multidões ocupam as ruas e desafiam golpismos. Mas aqui progressistas apegam-se à defesa da ordem. Precauções beiram o medo. Assim, eles acomodam-se à barbárie – e renunciam um horizonte político emancipador
Por Uribam Xavier, no Segunda Opinião
Quando Euclides da Cunha, na sua obra maior “Os sertões”, publicada em 1902, afirmou que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”, talvez quisesse dizer, embora o sertanejo tenha resistido e derrotado por duas vezes as forças armadas, que ele era capaz de sobreviver às adversidades naturais do sertão e à exploração e ao domínio dos donos do capital, atributo que os dotavam de capacidades diferenciadas para suportar a servidão. Hoje, porventura, estamos constatando que parte dos brasileiros, aquela que se identifica com o pensamento político de esquerda e portadora de um pensamento crítico, seja portadora do medo de rupturas estruturais e do conflito violento com o poder, talvez, por medo de perder os privilégios de classe média num país de desigualdade brutal, comportamento bem diferente dos setores de extrema direita e fascistas que vêm se consolidando no país depois do golpe de 2016. Estes, com objetivos fascistas, colocam-se contra a ordem e forçam as esquerdas a serem o seu guardião, pois renunciaram a um horizonte político emancipador. (mais…)