Diante da vasta repercussão da crise mais recente da população Yanomami, parte da comunidade jurídica, de forma tardia e constrangida, começa a balbuciar: “agora sim, talvez…”. Como se indícios e até provas da destruição em curso já não fossem oferecidos pelos indígenas há tantos anos
por DEISY VENTURA, em Sumaúma
Genocídio e negacionismo andam juntos. Especialmente no século 20, as maneiras de destruir parcial ou totalmente determinados grupos humanos evoluíram tanto quanto as formas de negação da ocorrência destes crimes. É importante recordar que o negacionismo mais conhecido, o do holocausto, não foi inventado pelos líderes nazistas e colaboradores quando foram julgados logo após o final da Segunda Guerra. Nestes processos, os réus alegavam ignorar ou não ter responsabilidade pelos crimes praticados, mas não negavam a sua ocorrência. As primeiras formas de negação do holocausto surgiram numa comunidade de intelectuais que não teve implicação direta nos crimes, por razões essencialmente ideológicas e posteriores à guerra. Graças a variadas formas de resgate da memória, emergiram diante das novas gerações as atrocidades cometidas por nazistas e colaboradores contra judeus, ciganos, homossexuais e pessoas com necessidades especiais. Segundo o historiador Henry Rousso, a necessidade política de superar o holocausto surgiu para permitir o renascimento da extrema direita nos países europeus. Em outras palavras, para que colaboradores diretos ou indiretos de tamanha monstruosidade fossem aceitos no espaço público, era preciso negar ou relativizar a existência dos crimes, suscitando controvérsias onde elas não existem, ocultando ou forjando documentos, distorcendo fatos e discursos. O resgate das origens do negacionismo é fundamental para que o debate sobre genocídio que envolve ações e omissões praticadas por Jair Bolsonaro e diversos de seus colaboradores seja travado com a devida profundidade. (mais…)
Ler Mais