Implosão do Antigo Prédio do IBGE, Parte 2: Legitimidade do Ato de Ocupar

por Émilie B. Guérette, em RioOnWatch

Da senzala à ocupação

Uma coisa que Crivella parece esquecer, é que as senzalas do passado, tal como as ocupações do presente, não eram meramente habitações sujas e sem água, mas também lugares de cultura e resistência. Elas têm um significado político profundo do qual os negros escravizados do passado e os ocupantes de hoje são muito mais conscientes do que ele aparenta perceber. Invocar a memória da escravidão sem reconhecer que populações escravizadas lutaram durante 350 anos para ganhar a sua liberdade, através de atos cotidianos de resistência, rebeliões, fuga e a criação de quilombos, é perpetuar uma visão muito parcial da história. Esta visão passiva e vitimista das populações escravizadas não faz honra aos séculos de resistência das populações negra e indígena no Brasil, que até hoje lutam para sobreviver, ser reconhecidas e manter suas culturas vivas. Da mesma forma, chamar os ex-ocupantes da IBGE de ‘escravos’ é usar um termo redutor que não reconhece as estratégias de sobrevivência, a extrema inventividade e a resiliência que caracterizava a vida dentro da ocupação, sem falar da consciência política ativa e do orgulho que sentiam alguns moradores ao terem conquistado um espaço para si e tê-lo transformado em lar. Se o prefeito insistir em se referir ao imaginário da escravidão para falar de moradia, em vez de invocar as senzalas, seria mais justo ele comparar as ocupações a quilombos. (mais…)

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A cada remoção, uma nova ocupação

Por Raquel Rolnik

Estamos vivendo uma emergência habitacional em São Paulo, como não se via há mais de uma década, pelo menos. Em outras palavras, por absoluta falta de acesso à moradia no mercado formal, e diante da ausência absoluta de políticas públicas para este segmento da população, estão se multiplicando as ocupações e os novos assentamentos, tanto nas periferias quanto nos edifícios abandonados de bairros centrais. (mais…)

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Favela Indiana realiza o 2º Fórum Anual na Luta Contra a Remoção: união é fundamental

por Sophy Chan, em RioOnWatch

No dia 12 de abril, a Comissão de Moradores e a Associação de Moradores da Comunidade Indiana uniram-se para realizar o Segundo Fórum Anual, no auditório da Fundação São Joaquim, localizado na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Mais de 35 pessoas estavam presentes na reunião, incluindo moradores e líderes da comunidade, moradores de favelas vizinhas, ativistas e representantes de organizações sociais, como a Federação das Favelas do Rio de Janeiro (FAFERJ), e de instituições públicas, como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro (ITERJ). (mais…)

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Comerciante que teve barraca derrubada na VK: ‘O sonho não acabou, mas me atrasaram bastante’

Pelo menos duas remoções marcaram a história da Vila Kennedy

por Luisa Fenizola, em RioOnWatch

A primeira, após o golpe militar de 1964, foi a remoção das famílias que viviam na Favela do Esqueleto. A remoção foi feita pelo governo do Estado para a construção da UERJ. As famílias removidas foram reassentadas nas recém criadas Vila Kennedy e Vila Aliança, em alusão ao presidente americano que tinha acabado de ser assassinado e à Aliança para o Progresso, programa de cooperação entre os Estados Unidos e o Brasil que financiou a sua construção, como parte da política de boa vizinhança americana no contexto da Guerra Fria, para assegurar a América Latina como área de influência americana. (mais…)

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Nem todos têm um preço, parte 6: Vila Autódromo no contexto das remoções olímpicas do Rio

Theresa Williamson – RioOnWatch

Infelizmente, a Vila Autódromo representa apenas uma de dezenas de comunidades que sofreram remoções na preparação para os Jogos Olímpicos Rio 2016. Ao todo, 80.000 pessoais foram removidas. Duas a três mil dessas eram da Vila Autódromo. De acordo com algumas estimativas, foram removidas no Rio mais pessoas nos anos pré-Olímpicos do que em ambas as administrações anteriores associadas com remoções, juntas: a de Francisco Pereira Passosna primeira década do século XX e de Carlos Lacerda nos anos 60.

Os Jogos Olímpicos foram o pretexto perfeito para a remoção. Ao longo do século anterior, moradores de favela adquiriram direitos básicos à terra, e suas comunidades vinham sendo lentamente urbanizadas sob a crescente conclusão de que essa seria a única maneira de integrá-las de forma justa. Oportunidades para remoções em massa não seriam mais justificáveis–isso é, até o prazo das Olimpíadas oferecer um estado de exceção.1 A população da cidade ansiava por investimentos. Havia uma suposição geral de que as decisões sendo tomadas pela prefeitura eram pertinentes e de interesse público. E havia pouco controle para garantir que realmente o fossem. (mais…)

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Nem todos têm um preço, Parte 5: Prefeitura parte para a desapropriação e violência

A Ascensão da Vila Autódromo Como Símbolo de Resistência Olímpica (2014-2016)

Theresa Williamson – RioOnWatch

Em maio de 2014, em um segundo evento do OsteRio, logo quando estudantes de planejamento urbano e moradores da comunidade publicavam um mapa mostrando que centenas de moradores estavam decididos a permanecer, o Prefeito Paes disse ao público que era “difícil preparar um plano de urbanização quando [havia] tantas pessoas vindo a [eles] querendo sair”, mas que eles iriam “ver o que resta da comunidade [após todas as indenizações serem dadas aos que estavam saindo], e que os que restassem […] contanto que não [fossem] em áreas de acesso [ao Parque Olímpico], [eles iriam] urbanizar conforme prometido”. (mais…)

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Intimidação e virada crucial na luta da Vila Autódromo (2013-2014)

A Ascensão da Vila Autódromo Como Símbolo de Resistência Olímpica (2013-2014)

Theresa Williamson – RioOnWatch

Até o final de 2012 todos os ingredientes estavam reunidos para o que se passaria ao longo do crucial ano por vir. A resistência da Vila Autódromo, com bases sólidas, seguiu crescendo no início de 2013. O convincente Plano Popular estava sendo distribuído, uma forte rede de líderes comunitários se reunia e se mobilizava, uma diversa gama de parceiros se engajava, a mídia global começava a prestar atenção e a batalha judicial da comunidade seguia resolutamente sem solução. Legalmente, o prefeito não poderia remover a comunidade sem consentimento ou justificativa para a desapropriação. E dada a visibilidade e a mobilização da comunidade, uma remoção relâmpago estava, cada vez mais, fora de questão politicamente. (mais…)

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