Não hesito em afirmar que, como esquerdas no Brasil, não estamos sabendo nos reinventar para disputar hegemonia e incidir na política atual, onde tudo parece estar nos levando à uma perda de rumo. Para a minha geração, aquela insurreição cidadã de muitas frentes, dos anos 1980, de conquista da institucionalidade democrática, depois de 24 anos de ditadura militar violenta, gera um saudosismo e, talvez, uma distorção no ver o que está acontecendo. A continuidade da extrema desigualdade social interna, com racismo, machismo, intolerâncias, violências e exclusões de toda ordem, sem controle, ameaças políticas autoritárias, reprimarização da economia e dependência de commodities nos fazem duvidar sobre a capacidade da democracia dar conta de tantos desafios. (mais…)
capitalismo
‘O Idiota’: a ascensão política da barbárie encarnada em personagens grotescos. Entrevista especial com Domenico Hur
O discurso radical da suposta direita antissistema se apoia na produção de discursos cada vez mais radicais e extremos produzindo uma polarização que torna cada vez mais narcísicos ambos os espectros políticos
Por IHU e Baleia Comunicação
Quando Tom Jobim cunhou a célebre frase “O Brasil não é para principiantes”, ele foi capaz de sintetizar a complexidade que significa viver em um país continental e com contradições e potencialidades igualmente colossais. A afirmação cai como uma luva para pensarmos os nossos desafios políticos, sobretudo quando no cenário político recente e atual surgem figuras que ganham notoriedade dobrando a aposta do absurdo e investindo em afetos intensos como estratégia de visibilidade. (mais…)
Saúde, meio ambiente e a luta contra o desencanto
O novo presidente da Abrasco fala sobre o futuro da entidade e suas perspectivas diante de um país e um mundo em crise. Sustenta: o Brasil pode ter papel crucial em aprofundar a compreensão da Saúde Coletiva, com a defesa do planeta no horizonte
Rômulo Paes em entrevista a Gabriel Brito, Outra Saúde
“São tempos de desencanto”. É assim que Rômulo Paes de Sousa, novo presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), define a atualidade, marcada pela crise estrutural de um capitalismo que leva o planeta ao colapso climático. Diante de tamanho dilema histórico, o campo da saúde teria caminhos alternativos a oferecer? Sim, diz ao Outra Saúde, desde que consiga aliar o acesso a serviços de saúde com uma agenda de renovação do conceito da democracia e sua produção política. (mais…)
Faz sentido falar em luta de classes hoje? Por Douglas Barros*
Nosso esforço deve ser reconduzido a entender a luta de classes não como uma escolha narrativa, mas como algo dado numa realidade material organizada a partir da exploração necessária à manutenção do capital.
No princípio era o chip
Em 1946, Mauchly e Eckert, cientistas da Universidade da Pensilvânia, na frente de uma plateia composta por colegas, curiosos e militares do exército norte-americano deixaram as luzes de toda Filadélfia piscando quando ligaram o ENIAC (calculadora e integrador numérico eletrônico). Esse foi considerado o primeiro computador. Tratava-se de um trambolho de 30 toneladas, 2,75m de altura, 70 mil resistores e 18 mil válvulas a vácuo, uma herança da Segunda Guerra. É muito provável que embora soubessem da importância do empreendimento, eles ignorassem que o piscar das luzes da cidade selaria o início de uma profunda e decisiva transformação tecnológica.1 (mais…)
Cinco intelectuais. Por Afrânio Catani
Análise das trajetórias de Vinicius de Moraes, B. J. Duarte, Octavio Ianni, Florestan Fernandes e Pierre Bourdieu
“Chaque jour nous laissons une partie de nous-mêmes en chemin”
(Amiel)
1.
A epígrafe do presente ensaio foi retirada do Journal intime (1847-1881) do escritor suíço de expressão francesa Henri-Frédéric Amiel (1821-1881). Curiosamente, o médico e escritor português Miguel Torga (1907-1995) também a utiliza em seu Diário (1999). Não vou detalhar o Journal de Amiel – ver Boltanski (1975). Apenas sublinho que há “pedaços de mim” nestas páginas, que me identifico com a afirmação de Amiel, permitindo que explore dimensões de minha trajetória intelectual, aqui representada por reflexões acerca dos percursos historiográficos de cinco intelectuais,[1] escritas ao longo de 25 anos. (mais…)
Crescimento: seis décadas de ilusões
Ideia de que o aumento do PIB é o objetivo central da Economia remonta aos anos 1950. Deformou conceitos de Keynes. E, depois de multiplicar a desigualdade e minar a democracia, terminou em… estagnação. Como revertê-la agora?
por Ann Pettifor, em Outras Palavras
“Crescimento” é um termo usado por economistas que têm em vista uma atividade econômica ampliada: um aumento no investimento, emprego, bens e serviços. Também é usado, de forma pejorativa, por ambientalistas convencidos de que a expansão interminável da atividade econômica em um mundo com recursos finitos é insustentável. Eles empregam mais comumente seu antônimo, “decrescimento” – como em The Future Is Degrowth: A Guide to a World beyond Capitalism [“O futuro é decrescimento: Um guia para um mundo além do capitalismo”]. O uso e a evolução de “crescimento” e sua ligação com o PIB representam uma etapa importante no surgimento do sistema atual de governança econômica global, baseado nas expectativas de “crescimento” contínuo, por sua vez facilitado pela desregulamentação financeira e mobilidade de capital. Tal “crescimento”, no contexto do capitalismo financeirizado, levou a desequilíbrios ecológicos, sociais e econômicos que ameaçam provocar colapso sistêmico. (mais…)
Para professor, classificar Guaíba como lago prejudica prevenção de cheias e favorece especulação imobiliária
Explanação quanto à definição do curso d’água foi tema da segunda edição do debate “O Guaíba à margem da lei”
Por Bettina Gehm, Sul21
Embora a enchente histórica tenha reacendido a discussão sobre as águas que banham Porto Alegre, o Guaíba é rio – se fosse lago, já teria virado uma fossa, tamanha a quantidade de dejetos que deságuam nele. A ciência evidencia que o curso d’água tem circulação fluvial, ou seja, se renova constantemente. A explicação é do professor Elírio Toldo Júnior, do departamento de Mineralogia e Petrologia da UFRGS. (mais…)