Contraposição a um artigo publicado em Outras Palavras. Antagonismos esvaziados tem efeito colateral: o marxismo desaparece como prática fundamentalmente política – e protagonistas das lutas sociais tornam-se figuras mudas e surdas
por Alex Moraes*, em Outras Palavras
O texto de Moysés Pinto Neto, publicado por Outras Palavras no início de março, apresenta-se como um diagnóstico contraposto a outros diagnósticos e aos seus supostos formuladores. Ali, está em jogo o desafio de representar, em termos claros e forjados com linhas divisórias dramáticas, o panorama de uma polêmica na qual incidem o bolsonarismo, a “esquerda liberal racionalista” (acadêmicos progressistas), a “esquerda radical” (influencers comunistas e velhas lideranças marxistas), uma “nova direita fantasiada de esquerda” (nacionalistas econômicos) e as/os protagonistas de um movimento “minoritário” em permanente mutação; movimento que, hoje, confronta-nos com a radicalidade de suas lutas, ancoradas na densa tessitura de filosofias e modos de vida estruturalmente alheios aos regimes de governo promovidos pelo “Deus-Capital-Branco”. No seio dessa polêmica, instala-se um profundo equívoco que organiza os olhares confusos do bloco esquerdista e do bloco bolsonarista: eles só conseguiriam enxergar nas políticas minoritárias o sinal de uma falta identitarista – falta de “luta de classes”, falta de ponderação no tocante a tendências essencialistas, falta, em suma, de radicalismo transversal e vocação majoritária – ou, então, no pior dos casos, o indício de uma insubordinação corpo-política e onto-epistêmica que exige repressão e normalização. (mais…)
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