O papa Leão XIII estava muito atento aos problemas que surgiram no final do século XIX, sobretudo aos questionamentos de grupos intelectuais sobre questões sociais, religiosas e no campo bíblico. Ele publicou dia 15 de maio de 1891, a Encíclica Rerum Novarum sobre as injustiças que o capitalismo estava impondo sobre os operários e outras questões sociais e a Encíclica sobre os estudos da Bíblia Deus Providentíssimo, publicada em 18 de novembro de 1893. Esse documento nasceu em uma época marcada por polêmicas e ataques contra a Igreja. A exegese liberal trazia um apoio importante, porque utilizava todos os recursos das ciências, desde a crítica textual até a geologia, passando pela filologia, pela crítica literária, pela história das religiões, pela arqueologia e por outras disciplinas. (mais…)
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Bíblia: privatização ou leitura crítica? Por frei Gilvander Moreira*
O Magistério da Igreja sempre teve zelo pela Bíblia desde os inícios da Igreja, cujos escritos eram conservados e guardados com o maior cuidado, em continuidade à tradição judaico-semita-palestina. Com as crises que a Igreja viveu no tempo da reforma protestante, no início do século XVI, arrefeceu o estudo bíblico e, gradativamente, foi dada maior atenção à devoção e à piedade popular, por meio de novenas, trezenas, procissões, embora nunca abandonasse as Escrituras Sagradas, porque elas sempre estiveram presentes nas celebrações litúrgicas. Porém, não houve grande incentivo para o estudo e a leitura da Bíblia em meio ao povo. (mais…)

Catar versículos bíblicos para justificar preconceitos? Por frei Gilvander Moreira*
Invocado sob muitos nomes, mistério de amor que nos envolve e perpassa, Deus, segundo a Bíblia, se revela na história[1], nas entranhas dos fatos e acontecimentos que fazem a história. Assim, para quem acredita em Deus, a caminhada e lutas de libertação de todo e qualquer tipo de escravidão se dá na companhia amorosa de Deus. A revelação de Deus se faz presente na transitoriedade humana, ou seja, no tempo e no espaço com a progressividade de um caminho com início, realização e o cumprimento em Cristo Jesus. Isso não significa dizer que seja um caminho sem tensões, retrocessos e avanços. O caminho da revelação divina se faz na história das lutas libertárias dos povos explorados e injustiçados e por meio da palavra que a interpreta e orienta. Nas relações humanas e sociais dos acontecimentos históricos a iluminação interior confere ao profeta/profetisa ou à comunidade de fé a inteligência de ler, à luz de Deus, os acontecimentos, seja pela palavra oral ou escrita, fazendo a leitura e a interpretação dos fatos e da realidade que nos envolve. (mais…)

O compasso do luto. Por Judith Butler
De que modo podemos ao menos imaginar uma futura igualdade dos vivos sem saber que as forças israelenses e os colonos mataram quase 3800 civis palestinos desde 2008 na Cisjordânia e em Gaza?
Os assuntos que mais precisam de discussão pública, os que mais urgentemente precisam ser discutidos, são aqueles que são difíceis de discutir dentro dos enquadramentos de que dispomos atualmente. Embora queiramos ir diretamente ao assunto em questão, esbarramos nos limites de um enquadramento que torna quase impossível dizer o que se tem a dizer. (mais…)

O fracasso dos esforços multilaterais para enfrentar as emergências mundiais e fazer as transformações necessárias
por Cândido Grzybowski, em Sentidos e rumos
Neste contexto de novo ciclo de violência, com destruição e morte de inocentes civis, na guerra sem fim entre Palestina e Israel, vale a pena refletir sobre a incapacidade das iniciativas multilaterais diante de situações como esta, que dizem respeito à humanidade como um todo. Afinal, todas e todos convivemos com este longo drama sem solução à vista. Em princípio, como concepção, o multilateralismo deveria ser um modo de negociar e agir coletivamente ao nível dos Estados para evitar guerras e destruições como esta. Foi isto que inspirou a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), como um embrião de uma constituição mundial de direitos e princípios comuns, depois daquela carnificina e destruição da II Guerra Mundial. Mas o que se pratica de fato é um multilateralismo fraco. (mais…)

O suicídio de uma nação e o extermínio de um povo. Por Vladimir Safatle
O Hamas não será destruído porque ele tem um sócio que precisa dele para sobreviver, e esse sócio é Benjamin Netanyahu
Existe um filme de Luis Buñuel que se chama O anjo exterminador. Nele, vemos um grupo de burgueses que vai para uma espécie de salão de recepção e simplesmente não consegue mais sair. Não há nenhum impedimento físico, nenhuma restrição, a não ser aquela vinda de suas próprias vontades. Quando tentam sair eles subitamente param, perdem a força de vontade e permanecem paralisados. A impotência vai até o desespero, cenas de violência e degradação aparecem, até que, da mesma forma como foi natural entrarem no salão, eles saem. (mais…)

Galeano em 2012: “Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los”
Tania Pacheco
Seria muito bom se Eduardo Galeano estivesse vivo. Ele não está, mas suas palavras e seus textos estão, em grande parte das vezes nos confrontando com fatos que deveriam provocar uma indignação tão grande que gerasse uma reação imediata da nossa dita civilização. E, no entanto, ante a nossa omissão, eles se repetem.
O texto que transcrevo abaixo foi escrito por Galeano há 11 anos e publicado por Pragmatismo Político em novembro de 2012. Me foi enviado por um dos amigos com quem divido minha indignação e angústia perante este e vários outros fatos: Zelik Trajber. Somos ambos de uma geração forjada em muita luta e que continua se recusando a se ‘aposentar’, mais ainda neste momento em que o fascismo sai do esgoto em diversas partes do mundo. Cada um/a a seu modo, continuamos nas trincheiras. E por isso compartilho este texto com você. (mais…)