Por Conselho de Gestão Ka’apor
Guardas florestais Ka’apor, enfrentando ameaças e violências de madeireiros ilegais, forças políticas da região e boicotes de funcionários do governo do Maranhão e do governo federal, lideram a proteção de seu território na Amazônia, fiscalizando o território e combatendo incêndios por conta própria.
Em 2015, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) firmou compromisso com os indígenas de que ao menos 30 guardas florestais Ka’apor seriam vinculados ao Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), recebendo remuneração e apoio às ações, mas, devido a uma intervenção da Fundação Nacional do Índio (Funai) no processo, apenas 10 indígenas foram cadastrados no programa.
“Não disponibilizam combustível, carro, equipamentos para acampar e não recebemos orientações permanentes sobre o combate a incêndios. Estamos sozinhos, sem apoio”, diz Mutuhuran, chefe da Brigada Kaaapor. O Prevfogo oferece roupas, materiais para conter incêndio e uma ajuda de custo para apenas 10 brigadistas.
O grupo de guardas florestais é formado por cerca de 50 indígenas que trabalham voluntariamente, arriscando suas vidas para garantir a proteção da floresta e da comunidade. Além de evitar a propagação de incêndios na Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, os guardas são responsáveis por ações de educação comunitária, com visitas e orientações nas aldeias a cerca de práticas produtivas sustentáveis, organização de mutirões para limpar roças, fazer aceiros (faixas onde a vegetação é eliminada para prevenir a passagem do fogo para a área de plantio ou floresta) e estimular a cultura de alimentos variados, de acordo com as práticas tradicionais de plantio.
Como noticiou o jornal The Guardian, “o significado das ações dos Ka’apor vai além do seu caso particular e os coloca na linha de frente da batalha contra as mudanças climáticas”. Para os Ka’apor, como escreve o jornalista Jonathan Watts, resistir à dizimação de suas florestas “não é apenas um trabalho, mas uma questão de identidade e sobrevivência”, e os benefícios desta resistência “são globais”.
Os Ka’apor ainda realizam ações de vigilância, avivamento dos limites do território e estruturação das áreas de proteção criadas na TI Alto Turiaçu para proteger a floresta da invasão de madeireiros ilegais. “Trabalhamos para melhorar a estrutura das novas aldeias criadas para proteger o território. Os guardas florestais ajudam na instalação de água potável”, ressalta o Conselho de Gestão.
De acordo com o artigo escrito por Joe Walston, da Wildlife Conservation Society, para o New York Times – reproduzido em português por O Eco, hoje, o maior risco contra a vida de guardas florestais ao redor do mundo “vem de criminosos organizados e bem armados envolvidos no contrabando de madeira”.
Só no ano passado, segundo a Global Witness, 185 indígenas, ativistas e guardas-florestais foram mortos no mundo inteiro, um aumento de 59 por cento em relação a 2014 e o maior desde que o grupo começou a compilar esses dados, em 2002. O líder indígena Eusébio Ka’apor, assassinado a mando de madeireiros em abril de 2015 em uma emboscada, foi mencionado no relatório da organização. Até hoje, o assassino de Eusébio continua solto.
“O governo tem que afastar seus funcionários que boicotam as atividades de nossos guardas florestais”, denuncia o Conselho de Gestão Ka’apor, em nota divulgada hoje por ocasião de Encontro de Educadores Indígenas Ka’apor, “e apoiar nossos esforços em defesa da vida e da floresta, que são reconhecidos mundo afora”.
O Conselho Ka’apor divulgou fotos das atividades dos guardas florestais e conclamou “as pessoas que enxergam que sem floresta não tem vida”, a apoiar “os guerreiros indígenas em sua missão de guardas florestais”.