Era uma vez na zona norte. Por Hugo Souza

Houve um tempo em que o governo do Rio de Janeiro invadia complexos de favelas mas não para matar quem nasceu ali e depois dizer que tinham mesmo — que remédio, que jeito, que saída? — é que morrer.

No Come Ananás

Em uma noite do final de agosto de 1993, dezenas de policiais militares encapuzados invadiram a favela de Vigário Geral, na zona norte do Rio de Janeiro, e mataram 21 pessoas indiscriminadamente horas após quatro PMs serem assassinados perto da favela numa emboscada do tráfico de drogas.

Na chacina de Vigário Geral foram mortos: três gráficos; dois metalúrgicos; um serralheiro; um mecânico; um motorista de ônibus; um ferroviário; um auxiliar de enfermagem; um operador de impermeabilizador de tecidos; um funcionário da Danone; uma costureira; uma atendente de consultório dentário; uma dona de casa; uma estudante; um aposentado e dono de bar; outro aposentado, este vigia de posto de combustíveis; dois trabalhadores desempregados; um homem que ganhava a vida como “chapa”, carregando e descarregando caminhões. (mais…)

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Os dias em que o São Francisco teve grades

Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas
lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados.”
(Gabriel García Márquez, O amor nos tempos do cólera)

Por José Carlos Costa

Dizem que todo navio carrega um destino, e que o rio é apenas o espelho onde esse destino se cumpre. Houve um tempo em que o Halfeld, antes barco de transporte e de promessas, foi transformado em delegacia flutuante. Tinha nome de engenheiro e alma de carcereiro. No lugar de passageiros, abrigava suspeitos, interrogatórios, repressão, medo. Suas janelas, outrora abertas ao vento e à correnteza, foram fechadas por cortinas de medo e confissões mal redigidas. (mais…)

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Rio: Direita planta a farsa do narcoterrorismo. Por Reynaldo Aragon Gonçalves

A chacina desta semana não é resultado apenas de uma ação policial. Com apoio da mídia, Cláudio Castro emplaca narrativa planejada para fabricar instabilidade, importar a doutrina de segurança dos EUA e enfraquecer Lula em plena disputa de soberania

No Outras Palavras

Drones sobrevoando o Complexo da Penha, granadas lançadas sobre um território densamente povoado, mais de uma centena de mortos, escolas fechadas, medo generalizado. As imagens correram o mundo antes mesmo que os fatos fossem apurados — e bastou uma frase do governador Cláudio Castro para fixar o enquadramento desejado: “é narcoterrorismo”. Essa palavra, lançada ao espaço informacional com a frieza de quem sabe o que diz, não é apenas um erro semântico. É uma arma. (mais…)

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Para além do meme. Por Orlando Calheiros

Clones, fugas e tanques viram meme no nosso feed. A direita agradece: enquanto rimos, eles organizam o próximo golpe.

No Café Amargo

Três cenas, um roteiro previsível.
Uma senhora de meia-idade discorre, com entusiasmo clínico, sobre clones do Lula.
Um deputado bolsonarista foge de um debate com a elegância de quem precisa, urgentemente, de um banheiro.
Generais norte-americanos sustentam um silêncio constrangedor enquanto Donald Trump anuncia, com a sutileza de um tanque, seus planos para os EUA. (mais…)

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Um café para a história: 181 anos do encontro de Marx e Engels. Por Gabriel Teles

No Blog da Boitempo

No dia 28 de agosto de 1844, em Paris, no Café de la Régence, dois jovens se encontraram e mudaram o curso da história. Marx e Engels já haviam se cruzado antes, mas foi ali, entre o burburinho dos jogadores de xadrez e o rumor da capital francesa, que reconheceram um no outro não apenas afinidades intelectuais, mas uma chama comum, feita de indignação e esperança.

Marx trazia nas mãos os manuscritos de sua crítica à alienação, ainda impregnado das batalhas contra a censura prussiana. Engels chegava de Manchester, trazendo no olhar a fuligem das fábricas, o testemunho da miséria operária inglesa e um esboço de crítica a economia política. O filósofo e o cronista do trabalho encontraram-se como dois rios que, depois de correrem separados, decidem compartilhar o mesmo leito (mais…)

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Nunca foi depressão

Por Eliara Santana

Em novembro de 2022, Jair Bolsonaro as recolheu da vida público-midiática após a derrota. Ele se recolheu no Planalto, e caravanas de apoiadores políticos passaram a visitá-lo. Diziam que ele estava “deprimido”. Não dava entrevistas, não falava com ninguém. Mas recebia as caravanas. A esquerda comemorava: “está deprimido”, “perdeu, mané”, “tá derrotado, acabou”. À época, eu postei que não era bem assim, que o recolhimento era muito mais estratégia do que depressão – ele é milico e safado, ou um combo dos dois, milico-safado, e sabe simular emoções e construir narrativa de perseguição como ninguém. (mais…)

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Chocado, atônito, sem reação. Por Hugo Souza

Como “alternativa” ao IOF para os ricos, em nome do ajuste fiscal, o Congresso Nacional sob Motta e Alcolumbre já pôs na mesa a revisão dos pisos da Saúde e Educação dos pobres.

No Come Ananás

“Motta choca o governo ao pautar votação do IOF e avisar pelas redes sociais”, informa Gerson Camarotti nesta quarta-feira, 25.

“Decisão de Hugo Motta de votar derrubada do IOF deixa governo atônito e sem reação”, diz Lauro Jardim. (mais…)

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