O sociólogo e cientista político Jessé Souza fala sobre seu livro a trajetória da elite nacional ao longo da história, no qual investiga as origens escravocratas das relações sociais e da corrupção no país
Nada mais falso que atribuir as mazelas e desigualdades do Brasil a uma herança cultural portuguesa, como gostam de repetir certos intelectuais brasileiros: “uma intelectualidade que diz besteiras como a de que viemos dos portugueses, que trata de uma herança ibérica maldita, de corruptos, e de uma autoestima de vira-lata, uma loucura repetida na sociedade nas escolas e na mídia”, dispara o sociólogo e cientista político Jessé de Souza, que recém-lançou o livro A elite do atraso – da escravidão à Lava Jato. A obra discute a importância da escravidão na formação da sociedade brasileira e na perpetuação do ódio e da indiferença que permeiam as relações sociais e forma uma espécie de trilogia com os anteriores A ralé brasileira (2009) e A tolice da inteligência brasileira (2015). Nesta entrevista, o ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) discute os conceitos abordados no seu novo livro, analisa a conjuntura política, o golpe, e compara a realidade brasileira com a de outros países. Para Souza, as elites brasileiras passaram a perna na classe média com um discurso anticorrupção para poder se apropriar das riquezas do país: “nossa elite montou uma relação de convencimento com a classe média para saquear a riqueza de todas as classes ao máximo”. (mais…)