Estrada (sur)Real: invisibilidade e degradação patrimonial e ambiental

Por Alenice Baeta, Henrique Piló, Benedito Oliveira e Luiz Fernando Miranda

Por solicitação do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural-COMPAT de Mariana, foi realizada vistoria arqueológica em julho de 2015 em localidades situadas próximas aos limites dos municípios mineiros, Mariana e Ouro Preto, quando a equipe se deparou com uma situação patrimonial e ambiental extremamente preocupante.

Foi verificada a existência de antigo trecho de caminho que possui ainda em muitos de seus segmentos escoros de alvenaria de pedras e sistema de drenagem pétrea do período colonial. Lamentavelmente, seguindo o trajeto original deste acesso que interligava em seus primórdios Vila Rica (Ouro Preto) a Ribeirão do Carmo (Mariana), constatou-se o total abandono deste importante conjunto histórico-arqueológico, agora com focos de desmoronamento dos seus muros originais e de erosão em seu leito. Ainda há localidades rentes a essa estrada degradadas por recentes frentes de explotação mineral (extração de quartzito), sobretudo no Morro Taquaral. Lajes retiradas das pedreiras que ficaram para trás, formando pilhas de detritos, entulham e cobrem trechos da estrada, desfigurando a paisagem e acessibilidade ao local.

Esta situação deveria ser averiguada pelas autoridades ambientais e patrimoniais que atuam em Ouro Preto e Mariana. O segmento da estrada real aqui tratado (e desconsiderado oficialmente como tal) interligava as zonas altas de Ouro Preto (Morros São Sebastião, da Queimada e do Taquaral)- as localidades mais antigas de Vila Rica, à porção também primeva de Mariana, no caso, o Córrego Seco, Mata Cavalos e Rosário Velho (antiga rua Direita – hoje local abrangido pelo bairro Prainha) a partir,  sobretudo, da primeira metade do século XVIII.

Posteriormente, este caminho foi substituído por outros tantos acessos mais baixos, que permeiam a meia-vertente mais próxima à calha do Ribeirão do Carmo seguindo na direção de Passagem de Mariana ou mais altos e aplainados, para Antônio Pereira, Canela e outros núcleos que emergiam na região.

Este trecho de antiga estrada e as estruturas associadas a esta unidade, merecem especial atenção por meio de programas de recuperação de áreas degradadas ou reconversão ambiental e paisagística, bem como, ações e projetos que visem a sua valorização, pois trata-se de um dos primeiros sítios, de fato, dessas duas importantes cidades históricas.

Considerando as iniciativas em curso de proteção e valorização do patrimônio arqueológico de Ouro Preto (Morro da Queimada) e de Mariana (Morros do Gogô e Santo Antônio); a preservação desse antigo trecho de caminho real como percurso arqueológico pode se constituir em um dos mais importantes empreendimentos culturais das cidades do ciclo do ouro.

Ao longo do caminho antigo há inúmeras localidades onde há pedreiras abandonadas e área degradadas e drenagens comprometidas. Este local merece um plano de recuperação ambiental urgente. Município: Ouro Preto, MG. Foto: A. Baeta em 2015.

Enviada por Alenice Baeta para Combate Racismo Ambiental.

Comments (1)

  1. Prezada Alenice,

    O que vocês descrevem é muito grave e ilustra, mais uma vez, um dos lados do Produto Estrada Real que careceu de adequados percepção e tratamento inicial: ação efetiva de proteção (institucional, jurídica e diabo a quatro….) do patrimônio-suporte do produto. O que inclui até a necessidade acordos judiciais antecipados e ações correlatas efetivas, neste sentido, do Estado com o setor mineral. A gente poderia escrever milhares de páginas sobre o leniência das autoridades, em todos os níveis, quanto à proteção do patrimônio cultural. Mas quem não entende nem pode pensar em proteger, mesmo que, raramente, tenha vontade disso.

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