Mídias comunitárias lutam pela democratização da comunicação

Thaís Cavalcante* – RioOnWatch

A mídia tradicional que obtém a maior audiência em todos os meios de comunicação, se difere da forma democrática de comunicar, pois está comprometida com os interesses de grandes empresas. Os propósitos social, moral e histórico são outros. Os interesses políticos sobressaem quando envolvidos em concessão pública de rádio e tv no país, o que dificulta a efetiva democracia dentro da necessidade em fazer comunicação alternativa e, torna-la a segunda opção para os não adeptos às grandes emissoras.

A comunicação comunitária acontece atualmente em redes sociais, portais de notícias, jornais impressos, cursos populares, rádios comunitárias legalizadas ou não, rádio web e em debates, sobre diversos temas. Essas e outras formas de serviço público, compartilhamento de informação e formação política ocorrem de maneira horizontal. Seja por inciativa do morador,coletivos, organizações ou instituições locais.

Ao perceber a acessibilidade tecnológica, qualquer cidadão com determinada tecnologia passa a não só receber informação, mas produzi-la e compartilhá-la. O comunicador do Portal Viva Rocinha Michel Silva, 20 anos, é um exemplo de morador que sente necessidade em aprender com o jornalismo comunitário e de resolver problemas escrevendo. “O conteúdo das mídias comunitárias é um importante instrumento de documentação local. O morador fica sabendo sobre obras, projetos sociais e histórias”, afirma ele. Esse jornalismo possui desafios, principalmente “A falta de financiamento (que) é a maior dificuldade, além da ausência de respostas de órgãos do governo,” conclui.

A importância da democratização é relacionada a liberdade de expressão e ao direito que todo cidadão tem de consumir, produzir e compartilhar informação. Mas não há interesse público. Segundo a pesquisa Direito à Comunicação e Justiça Racial, atualmente não há no Brasil política pública ou programas de fomento destinados especificamente ao estímulo da comunicação alternativa. Como pode ser visto, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM) concentra 70% do dinheiro em publicidade do governo federal em apenas dez veículos de comunicação.

O jornalista argentino Nacho Lemus, 31 anos, mora no Rio de Janeiro e contou como o assunto é tratado lá fora. “Para a grande mídia mundial, pobre no Brasil é objeto de consumo: O tratamento é cínico, a favela é o que foi a selva amazônica faz décadas, para aqueles que comerciam a informação. A população é envolvida no show da violência, narcotráfico e consumo de drogas, isso desperta o olho da mídia internacional para denunciar as desigualdades sociais”, afirma Nacho que passou a entender melhor como a comunicação comunitária é feita ao se aproximar desses meios, em territórios como o Complexo da Maré.

Um movimento social que luta para mobilizar todos os envolvimentos com comunicação no país é o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação. Há 20 anos lutam através de campanhas nacionais, como a reforma da Lei de Imprensa e a criação do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional.

Neste ano de Olimpíadas no Rio de Janeiro, a mídia alternativa já está alerta para acontecimentos envolvendo as favelas, espaços mais preocupantes para as autoridades, assim como veículos tradicionais que buscam cada vez mais moradores para opinar sobre promessas e projetos. O espírito olímpico não chegou. Mas a necessidade de comunicar com nossas palavras o que realmente acontece, permanece ano após ano.

*A correspondente comunitária Thaís Cavalcante tem 21 anos, e foi nascida e criada na Nova Holanda, uma das favelas da Maré. Ao atuar como comunicadora comunitária há 4 anos em sua comunidade, decidiu cursar jornalismo na universidade e acredita no poder da informação para mudar para melhor sua realidade.

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