No Cimi
A coordenação nacional da Via Campesina esteve reunida em Luziânia, no Centro de Formação Vicente Cañas, nos dias 11 e 12 deste mês.
Analisando o momento histórico e fazendo a memória da caminhada e das lutas no campo nesses últimos anos, viu-se que o tempo é propício para avançar na garantia dos direitos, na desconcentração da terra, na distribuição das riquezas. Sonhos, bandeiras e utopias mobilizando a esperança de mudanças profundas, urgentes e necessárias neste momento de crise sistêmica, tempo favorável de lançar sementes nas brechas dos muros.
Velhos desafios e novas barreiras tentam obstaculizar as lutas dos diversos atores sociais no campo. O governo tem sua opção clara pelo agronegócio, pelas sementes transgênicas, pelos agrotóxicos, pela acumulação do capital. Ele não vai mudar em nada sua posição. Resta, portanto, aos movimentos e lutas no campo fortalecer suas bandeiras pela ruptura desse sistema, construir alianças, lançar as sementes de um novo modelo de produção, baseado na pequena propriedade, na concepção de territorialidade e na relação respeitosa da mãe terra.
Diante dessa realidade, os integrantes de mais de dez organizações de atuação em nível nacional, no campo, definiram as estratégias de avançar na garantia e efetivação dos direitos das populações do campo, no Brasil, no continente e no mundo. A Via Campesina é hoje a maior articulação de trabalhadores do mundo. A Via está articulada em 70 países de todos os continentes.
Dessa forma as populações do campo buscam construir a solidariedade internacional, a partir das lutas e articulações de base. O desafio maior é construir caminhos de unidade e unificação das lutas a partir da pluralidade de povos, culturas, cosmovisões, sonhos e utopias.
Uma das questões ressaltadas é a necessidade de ampliar a formação política a partir de cada organização e de instâncias mais amplas dos movimentos e organizações no campo. É fundamental construir um calendário de formação e mobilizações. É preciso retomar nossa capacidade de se insurgir e indignar diante da violência e criminalização no campo, com requintes de crueldade e barbárie.
Dentre as principais bandeiras de luta levantadas estão: terra/território, luta pela demarcação das terras indígenas, quilombolas e populações tradicionais, juntamente com acento na reforma agrária ampla e popular; luta pela soberania alimentar e alimentação saudável, sem agrotóxicos e sementes transgênicas; além disso estarão em pauta questões mais conjunturais como a Previdência, Petróleo e Violência.
Os povos indígenas terão pela frente duras batalhas para garantir seus direitos. Já está sendo anunciada a votação da PEC 215 no plenário da Câmara dos Deputados. E assim estão outros projetos como o da mineração, dentre outros.
No campo nasce uma flor, uma flor traz os seus frutos.
Semear é somar
O tempo é propício
O campo espera
Com carinho a semente,
Não violada
Em sua natureza original,
Em seu desejo de explodir
Em nova vida,
Sem que a mãe terra
E seus filhos
Sejam envenenados!
Bendito seja
O solo fecundo
Prenhe de sonhos
Alimentando as utopias,
Na luta de cada dia,
Pela liberdade, justiça e paz,
Terra mãe repartida
Em territórios de vida.
Os caminhos são plurais,
E vão se encontrando
Nas buscas dos caminhantes
Na mobilização da esperança,
Na aliança e unidade necessária
Para transformações profundas,
Libertárias e construtoras
Do novo amanhã,
Da nova sociedade,
Solidária além fronteiras
Do bem viver,
Da plurinacionalidade
E da democracia comunitária
participativa
Egon – fevereiro de 2015
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Fotos: Laila Menezes/Cimi