Bullying deve ser combatido com apoio às vítimas e melhoria do ambiente escolar

Jilwesley Almeida – Adital

“Bullying é um sintoma de falta de saúde emocional, por parte do agressor, que pode afetar, seriamente, a da vítima”, afirma a presidenta da Associação pela Saúde Emocional de Crianças (Asec), Tânia Paris, em entrevista à Adital. Para ela, aquele que pratica o bullying busca sentir-se superior com a atitude agressiva e, como não consegue, isto acaba gerando um círculo vicioso perverso.

Segundo Tânia, o primeiro passo em direção à cura desse problema psicológico e social é reconhecer a existência dele. A presidenta do Brasil, Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores – PT) sancionou, em novembro de 2015, a lei que estabelece o Programa de Combate a Intimidação Sistemática. A nova norma entrou em vigor no inicio de fevereiro deste ano.

O chamado “Programa de Combate ao Bullying” do governo brasileiro tem como objetivo não apenas punir os agressores, mas promover a responsabilização e a mudança de comportamento agressivo, utilizando-se de mecanismos e instrumentos alternativos, como ações educativas, campanhas de conscientização e capacitação de equipes pedagógicas.

Apesar de só ter chamado a atenção sobre suas consequências há alguns anos atrás, o bullying sempre existiu, assinala Tânia, principalmente em espaços que reúnem crianças e adolescentes, como as escolas. A presidenta da ASEC acredita que o tema ganhou destaque após tragédias as protagonizadas por agressores e vitimas – principalmente assassinatos em massa de crianças e adolescentes supostamente vítimas de bullyuing – terem ganhado os noticiários em todo o mundo. O que serviu de alerta para os efeitos do bullying, destacando o quão graves podem ser as consequências se vítimas e agressores não receberem atenção e apoio.

Tânia alerta ainda para a importância de refletir que, na maioria das vezes, é difícil, para a vítima, reportar a ocorrência, e isto acaba dando margem para se subestimar a dimensão do problema. “As vítimas, se não contarem com apoio, podem julgar-se merecedoras dessa tortura e terem sua autoestima arrasada, tendendo a um entre dois extremos – anularem-se ou se tornarem violentas”, diz.

Ainda de acordo com a especialista, muitas escolas negam a existência ou subestimam os efeitos do bullying, pelo fato dos seus diretores e coordenadores não presenciarem episódios de violência.

Ela conta que, ao discutir o tema durante encontros de formação de professores em Educação Emocional, muitos afirmam que esse problema não acontece nas turmas em que lecionam. “Mas, depois de desenvolverem aulas com os alunos, enfatizando que quem sofre bullying tem o direito de pedir ajuda, mostrando-se sensíveis e abertos, surpreendem-se ao serem procurados com denúncias”, conta Tânia.

Para a Asec, o grande desafio do novo Programa do governo de combate ao bullying é transformar a necessidade de se adotarem medidas para realmente melhorar a ambiência escolar. Tânia diz que é interessante que o bullying seja erradicado não apenas por coibição, mas que haja também a inclusão de programas efetivos nas instituições, que elevem a autoestima e a solidariedade dos alunos, evitando a ocorrência de novos casos. “Essa transformação da escola em um ambiente emocionalmente seguro é possível e altamente favorável também para a melhoria do aprendizado”, garante ela.

Segundo Tânia, para combater o bullying, é necessário que a equipe escolar e as famílias levem o assunto a sério e adotem uma postura de tolerância zero, e nunca, em hipótese alguma, devem rir de brincadeiras que ferem. Profissionais especializados são indispensáveis para tratar os casos que estão em andamento.

Para a prevenção, Tânia diz que existem programas de combate e de promoção da saúde emocional, que equipam as crianças com um conjunto completo de habilidades para lidarem com dificuldades. A tal ponto que passam a serem elas mesmas as pessoas mais sensíveis a qualquer forma de atitudes que prejudiquem outras pessoas.

A Asec tem, por exemplo, programas de educação emocional – o Amigos do Zippy e o Amigos do Maçã, destinados a crianças na faixa de sete a oito anos. Os Programas pretendem ajudar os pequenos a reconhecerem seus próprios sentimentos e empatias, além de contribuírem com técnicas de comunicação, que os ajudam a elaborarem seus pensamentos e resolverem conflitos.

Dentro da metodologia dos Programas da Asec, as próprias crianças escrevem e assinam contratos coletivos de não tolerância ao bullying. Tânia Paris destaca que o importante não é o fato de assinarem o contrato, mas, sim, de chegarem a um compromisso, por estarem convictas de que existem muitos meios de se sentirem melhor quando estão com dificuldades.

Para ela, Aasaúde emocional deve ser promovida cedo na infância, com o desenvolvimento de habilidades para enfrentamento de dificuldades que evitarão crises pelo resto da vida.

Colaborou Benedito Teixeira.

Comments (1)

  1. Ficamos contentes pelo fato da lei ser propositiva e não impositiva, o que faz com que a abordagem do assunto seja pedagógica. Há oito anos desenvolvemos o projeto Escola Sem Bullying no Reino Unido e o aplicamos no Brasil desde 2011, obtendo resultados de até 94% de redução dos índices de bullying no ambiente escolar. Juntos podemos acabar com o bullying!
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