Em dias de marqueteiro preso, me peguei sonhando com uma campanha presidencial em que eles não sejam mais as figuras centrais, mas sim o debate das pautas de interesse público.
Uma campanha que não contasse com malabarismos de imagens, sons e edição, relatando mentiras sensacionais ou encobrindo fatos, de forma gloriosa e cintilante, para os eleitores. Campanhas com mais saliva dos candidatos e menos efeitos especiais.
No segundo turno das eleições presidenciais de 2014, era impossível saber o que era ficção e o que era realidade de ambos os lados da disputa. E com a guerra suja sendo travada nas redes sociais, qualquer verdade sobrevivente resgatada pela imprensa ou sociedade civil automaticamente sofria bombardeio das campanhas, de seus robôs e da parcela de simpatizantes que, mordidos pelos marqueteiros e despidos de senso crítico, tornaram-se zumbis.
Torço para que o fim do financiamento empresarial de campanhas eleitorais torne impossível contratar marqueteiros que custam R$ 150 milhões.
Pois se o candidato ou candidata não forem fenômenos de arrecadação de pessoas físicas, será muito difícil justificar de onde veio tanto recurso para ter um campanha com nível de show internacional. E bastará uma olhada entre o nível da produção e a quantidade de doações para fazer com que alguém se torne alvo de investigação por caixa 2 do Ministério Público Federal.
O fim do financiamento empresarial para todos os partidos pode colocar um ponto final nesse processo que se retroalimenta. “Ah, a campanha do meu adversário está usando hologramas e realidades virtual 3D na campanha, então preciso ir além e escrever meu nome no céu das principais capitais com sal rosa do Himalaia.”
Um lado alimenta a loucura do outro em uma competição em que centenas de milhões são gastos, muita gente de comunicação fica rica, empresas garantem facilidades futuras e ideias que não contam com apoio econômico são ignoradas.
Ou seja, quem mais perde hoje é quem deveria ganhar com eleições livres: a democracia.