“Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5, 10).
O Cimi repudia declarações feitas pela deputada Mara Caseiros (PSDB-MS) e informação publicada pela página eletrônica da Assembleia Legislativa do estado do Mato Grosso do Sul relativamente à entidade.
É falsa a informação, publicada dia 11 de março na página eletrônica da Assembleia Legislativa do MS, em matéria assinada pela jornalista Fernanda França, segundo a qual o Conselho Indígena de Roraima (CIR) seria uma “sucursal local do Cimi”. O CIR é uma organização indígena que representa povos e comunidades indígenas do estado de Roraima. O Cimi é uma organização indigenista, “de caráter religioso e filantrópico, sem fins lucrativos”, que atua em defesa da vida dos povos originários e que não representa os povos, suas comunidades e lideranças, em qualquer grau e instância.
É falsa a afirmação da Deputada Mara Caseiro segundo a qual o Conselho Mundial de Igrejas estaria “diretamente envolvido” na criação do Cimi. A deputada requenta informações baseadas em documentos usados para atacar o Cimi, em 1987, cuja falsidade foi comprovada por Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) instituída no âmbito do Congresso Nacional na ocasião para investigar o Cimi. Por isso, também é falsa a vinculação feita pela Deputada entre a Sra. Victoria Tauli-Corpuz, relatora especial da ONU para Povos Indígenas, e o Cimi. Consideramos que fazer afirmações dessa natureza, sem qualquer base na realidade dos fatos, é uma atitude irresponsável e injusta por meio da qual, pretende-se, de antemão, atacar a legitimidade da visita feita pela relatora da ONU e o documento a ser produzido por ela sobre a situação vivida pelos povos indígenas no Brasil e no estado do Mato Grosso do Sul.
São falsas e preconceituosas as afirmações da mesma Deputada, ao portal Campo Grande News, em matéria publicada no dia 11 de março, e ao portal Capital News, em matéria publicada no dia 10 de março, segundo as quais, respectivamente, o “único objetivo do Cimi” seria “incentivar as invasões de terra no estado”, “propagando o ódio” e “que o Cimi estaria informando aos indígenas quais áreas devem ser invadidas”. Os povos indígenas são sujeitos plenamente capazes, detentores de conhecimento sobre suas histórias de vida e senhores de suas decisões políticas. Diferentemente do que pressupõe a deputada, por ignorância ou por má fé, os povos não são marionetes.
Além disso, é de conhecimento público e notório que o ódio e a guerra contra os indígenas no Mato Grosso do Sul existe desde antes de 1972, ano da fundação do Cimi. Os mais de vinte ataques paramilitares, alguns com uso de armas químicas, desferidos contra comunidades do povo Guarani e Kaiowá, que resultaram em assassinato e em dezenas de indígenas feridos no estado, nestes últimos meses, não deixam dúvidas sobre quem promove a guerra e o ódio no campo. Certamente não é o Cimi e não são os povos indígenas que propagam esse ódio e essa guerra.
É falsa, temerária e irresponsável a vinculação, feita pela Deputada Mara, do Cimi “com as invasões chegando às áreas urbanas”. Com essa vinculação a Deputada pretende atrair a população urbana para o seu campo político e, concomitantemente, insuflá-la contra o Cimi e seus missionários. Isso potencializa os riscos à integridade física e à vida dos missionários católicos que atuam em defesa dos povos indígenas no estado. A Deputada simplifica uma realidade bastante complexa, desdenha o fato dos indígenas da Reserva de Dourados viverem uma permanente “crise humanitária” por falta de terra e ignora o fato da área retomada recentemente ser reivindicada pelos indígenas junto ao poder público há pelo menos 46 anos, anteriormente, portanto, à criação do Cimi.
Condenamos a prática recorrente de desinformar conscientemente a população sul mato-grossense, fazendo uso inclusive de instrumento de comunicação bancado com recurso público, a fim de defender interesse próprio e da classe ruralista deste estado.
O Cimi continuará testemunhando e anunciando profeticamente a Boa-Nova do Reino, a serviço dos projetos de vida dos povos indígenas, denunciando as estruturas de dominação, violência e injustiça, praticando o diálogo intercultural, inter-religioso e ecumênico, apoiando as alianças desses povos entre si e com setores populares para a construção de um mundo para todos, igualitário, democrático, pluricultural e em harmonia com a natureza, a caminho do Reino definitivo.
A paz no campo só será alcançada com justiça.
Vida e Justiça aos povos indígenas do Mato Grosso do Sul.
Conselho Indigenista Missionário
14 de março de 2016