AM – Quilombolas do Porto do Céu acionam MPF para terem direitos constitucionais assegurados e Seed se compromete em resolver problemas na área de educação

Por Elton Tavares, no Blog do Rocha

Moradores da comunidade quilombola de São José do Matapi, se reuniram na última semana com o procurador da República, Thiago de Almeida, com a secretária de Educação do Estado (SEED), Conceição Medeiros, e técnicos do órgão, para cumprir o trâmite de Inquérito Civil Público que apura as condições da infraestrutura da escola Estadual David Miranda dos Santos. A comunidade procurou o Ministério Público Federal em 2015, apresentando relatório da situação precária da instituição. Eles reclamam ainda sobre a exoneração da diretora Maria do Socorro sem que fossem comunicados.

Na época da denúncia, o MPF fez vistoria na escola e comprovou o que estava descrito no relatório sobre a estrutura física, elétrica e hidráulica da escola. Além destes problemas, um esgoto aberto facilita a presença de caramujos africanos, e as paredes e forro estão infestadas de fezes de rato e morcegos. Diante da situação, o MPF emitiu recomendação à Seed, considerando os direitos constitucionais dos habitantes de comunidades quilombolas de ter educação em condições de igualdade com o restante dos brasileiros, obedecendo suas particularidades.

A Escola David Miranda foi construída há 32 anos na vila de Porto do Céu, na área quilombola São José do Matapi, e há mais de 20 anos não é reformada. Ela atende atualmente a cerca de 240 alunos de sete comunidades ribeirinhas, oferecendo ensino fundamental. Outro questionamento levantado pelos moradores foi a exoneração, sem motivo justificado, da professora Maria do Socorro de Jesus, do cargo de diretora, e transferência do professor Paulo Nunes, para outra escola, também sem explicação. Reclamaram ainda da informação dada por um representante do Governo do Estado na comunidade, que a escola seria construída na vila do Coração.

Após ser acionada pelo MPF, a SEED fez um levantamento na vila do Porto do Céu, sob a orientação do representante do GEA na comunidade, e nenhum líder comunitário, para escolher um espaço para as aulas. O espaço conseguido para a escola funcionar provisoriamente foi condenado por questões pedagógicas. “O prédio foi indicado por uma pessoa que representa o Governo mas não nos representa, não sabe da nossa realidade. Precisamos com urgência de um espaço para não comprometer as aulas, para que a nova escola seja construída”, disse o morador Francisco Gomes.

“Nossa comunidade tem que ser ouvida. Somos resguardados por uma Lei Federal desde que fomos reconhecidos como remanescentes de quilombo. A escola é a única referência do Estado em nossa comunidade, e ouvimos na TV que o Estado pretende tirá-la do Porto, o prejuízo seria enorme para os alunos. A direção da escola foi mudada sem que fôssemos ouvidos, assim como o professor Paulo, que exercia um excelente trabalho à frente do projeto Mais Educação. Já temos um prédio para indicar para aluguel e a área para a construção da nova escola”, disse a moradora Maria Ivonete.

A secretária Conceição Medeiros reconheceu que a Seed não respondeu oficialmente a recomendação do MPF, mas afirmou que a proposta é reconstruir a escola em outro espaço, mas na vila Porto do Céu, e que a diretora foi exonerada a partir de reclamação de pais de alunos. Também pediu desculpas ao professor Paulo Nunes por ter feito a transferência sem comunicação antecipada. Para o MPF, a Seed tem que consultar a comunidade para indicar um novo diretor, e que a lei deve ser obedecida, dando preferência para uma pessoa da comunidade, com capacidade e que preencha os requisitos para o cargo.

No final da reunião, ficou definido que a partir de agora o GEA irá se reportar às lideranças da comunidade, e não ao representante do Estado. Cumprindo o acordado, técnicos da Seed acompanhados de moradores, visitaram o local indicado para funcionar a escola para que os trâmites tenham andamento. A Seed se comprometeu em promover a reunião, no dia 22 de março, com a comunidade para esclarecer os motivos da exoneração da ex-diretora e a indicação do atual, com elaboração de relatório ao final. A comunidade apresentará conclusões ao MPF depois dessa reunião.

Imagem: Reprodução do Blog do Rocha

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