Um belo monte de frases e dramas

Marizilda Cruppe, Projeto Colabora

Por trás de todas as discussões sobre condicionantes, geração de energia e promessas não cumpridas estão as pessoas. Suas histórias, suas vidas e suas angústias. Na sexta reportagem da série “Fim de festa em Belo Monte”, Marizilda Cruppe e Marceu Vieira mostram um pouco dos rostos e dos sentimentos que habitam a grande região do Xingu. Veja as fotos de Marizilda Cruppe e depoimentos colhidos por Marceu Vieira abaixo.

Quem comandava a pesca era ela. Quem manda aqui em casa é ela também. Essa aí é a minha rainha. O peixe procura o raso. O peixe vai ficar aí nesse lago (da barragem) fazendo o quê, se não tem comida para ele comer? Todo dia, eu trazia 20 kg de peixes. Hoje, você pega o da “boia”, e se dê por satisfeito. Hoje, o pescador sai, fica o dia todo e, se volta com 1 kg, 2 kg, se dê por satisfeito.

João Pereira da Silva, 64 anos, pescador

ribeirinhos belo monte

É muito triste isso. A pessoa não ter o que comer, o que dar de comer para a família. Eu gosto de ajudar. Venho quase todo dia aqui. Trago o que posso.

Larissa Lorrana dos Santos (esq), 15 anos, falando da situação de Antônia Nascimento Neves, que mora com três filhos e a nora num barracão no bairro Brasília

violencia belo monte

Altamira só tem uma delegacia. Na carceragem daqui, cabem uns 60, mas, lá dentro, agora, tem 94. Depois da usina, o efetivo policial aumentou de 50 para 144 homens. É pouco.

Esses meninos roubaram uma pessoa pobre. Os objetos são de pouco valor, mas fazem falta para a dona deles, que também é pobre.

Policial que pediu para não ser identificado

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Só uma minoria era contra a usina. A alta classe era a favor inteira, não contava com essas coisas. Fomos enganados. Não tem mais praia no rio. E o esgoto que foi prometido, cadê? Muito triste…

Márcia Camilo, 32 anos, moradora do bairro Mutirão

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É uma situação que eu não sei como resolver. Morar aqui eu não queria. Mas não tenho para onde ir. Sobramos só nós aqui nessa rua vazia. Sei que um dia vão me tirar também. Tenho medo.

Antônia Nascimento Neves, 34 anos, desempregada

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Aumentou a violência em Altamira, o trânsito ficou ruim. Tudo ficou ruim. Antes, a gente ouvia passarinho cantando na beira do rio, deitado na rede. Agora, nós vamos para onde? A esperança é pouca.

José Carlos Alves Ribeiro, 43 anos, pescador

Eu tenho ainda uma percepção positiva. Mas as medidas mitigatórias tinham de ser mais bem trabalhadas. O impacto na cidade poderia ser amenizado.

Luiz Cláudio Pereira Corrêa Júnior, 27 anos, secretário de Planejamento de Altamira

bispo prelazia xingu belomonte

Eles dizem que fizeram um monte de casas. Casinhas! Não são casas onde o paraense possa viver. A cultura desse povo é muito hospitaleira. A família não é apenas pai e mãe. É a família grande, é o clã. Fico estarrecido diante de uma família que mora numa casinha dessas aí, e quando vem papai ou mamãe, a filha e o filho, vão ter de dizer: “pai, mãe, aqui não tem lugar”.

Dom Erwin Kräutler, 76 anos, bispo da Prelazia do Xingu

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O rio é sagrado, nos dá alimento, alimenta a terra. O que o governo fez com o Xingu quer fazer agora com o Tapajós. Não vamos deixar. O que o governo faz com o índio não é justo.

Cacique Tiago Munduruku

Cada momento do processo é carregado de ansiedade e de demandas de todos os atores envolvidos. Todos buscam mais uma acomodação em relação a suas demandas: os moradores das áreas que esperavam suas condicionantes, a prefeitura, os empreendedores

Thomaz Toledo, diretor de Licenciamento do Ibama

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Meu marido sente falta do rio. Ficou doente de tristeza e não pode mais pescar. O rio, para nós, já foi extinto. Então, eu trouxe a canoa para cá, botei no quintal com uma planta do lado e pintei essa parede de azul. Aqui, agora, é a volta grande do Xingu. Faz de conta. Aí, ele pensa que ainda estamos na ilha.

Raimunda Gomes da Silva, 57 anos, pescadora

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