A Fórum esqueceu de mencionar, mas o ilustre membro do Ministério Público Federal é o mesmo que assinou, com um colega, recomendação proibindo que a Universidade Federal e Goiás e 38 outros órgãos públicos no estado discutissem o processo de ‘impeachment” (TP).
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Notícia chegou a ser publicada por uma das principais colunistas da Veja e provocou uma recomendação da Procuradoria da República em Goiás, assinada por um procurador ligado ao Instituto Millenium, contra a participação de estrangeiros em manifestações; bolivianos são, na verdade, vendedores, e vieram participar da inauguração da filial de Goiânia do Grupo Sion
Pela Revista Fórum
O procurador da República Aílton Benedito de Souza, do Ministério Público Federal em Goiás, expediu nesta sexta-feira (15/04) uma recomendação para que os órgãos de segurança pública daquele estado e federais com atuação lá impeçam a participação de estrangeiros em atos políticos relacionados ao impeachment. Os documentos são dirigidos à Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, responsável pelas polícias Civil e Militar no Estado, e às polícias Federal e Rodoviária Federal com atuação em Goiás.
O procurador justifica a recomendação sob a alegação que “notícias veiculadas recentemente na imprensa alertam para grupos de bolivianos indo a Brasília participar de manifestação no próximo domingo”. A preocupação poderia até fazer sentido não fosse um detalhe: a informação publicada no dia anterior pela colunista da revista Veja Vera Magalhães e outros veículos que atuam pelo golpe – como o Antagonista, criado por jornalistas demitidos da mesma publicação – não é verdadeira. A partir da interceptação pela Polícia Militar de Goiás – estado governado por Marconi Perillo (PSDB) – de três ônibus com cidadãos bolivianos foi criada a ilação que eles estariam indo para Brasília prestar apoio à presidenta. Essa teoria conspiratória é atribuída à “inteligência da PM”.
No próprio texto, a jornalista do semanário da Editora Abril afirma que “abordados pela polícia, os motoristas disseram que levavam participantes para um congresso imobiliário” e apresentaram documentos de autorização da viagem. Ainda assim, ela insiste na versão da “inteligência da PM” ao afirmar que passageiros teriam dito “que outros ônibus estariam indo para a capital federal vindos de países como Venezuela e Paraguai para participar dos atos pró-Dilma”.
Responsável pela contratação dos ônibus e pela vinda dos bolivianos ao Brasil, o Grupo Sion divulgou uma nota em que desmente os boatos. “O Grupo Sion vem a público esclarecer que os três (03) ônibus com 160 vendedores chegaram a Goiânia ontem (quinta-feira), cidade destino. O único e verdadeiro motivo para a chegada dos bolivianos na capital goiana é para o coquetel de inauguração de mais uma empresa do Grupo Sion em Goiânia que vai acontecer neste sábado (16), na sede da empresa instalada no setor Oeste; e para um almoço de lançamento do primeiro empreendimento do grupo no Brasil em uma fazenda adquirida no Lago Corumbá IV, Abadiânia (GO), no domingo (17)”.
Além de lamentar as especulações, o Grupo Sion se colocou à disposição para mais informações. No texto, a empresa diz ainda que é um grupo empresarial com sede na Bolívia que atua há mais de dez anos no ramo imobiliário. “O grupo internacional conta com 20 empresas na Bolívia, uma em Cancun (México) e agora chega ao Brasil, no Estado de Goiás, com a Efrata Empreendimentos Imobiliários e Construções”, explica.
O procurador da República Aílton Benedito de Souza é ligado ao Instituto Millenium – entidade que reúne empresas e pessoas ligadas à direta, entre elas dirigentes e jornalistas do Grupo Globo e da Editoral Abril, que publica a Veja. Não é a primeira vez que ele usa boatos e notícias falsas para embasar sua atividade profissional. Em 2014, pediu esclarecimentos ao Itamaraty depois de ler uma notícia de que o governo venezuelano havia convocado “26 jovens do Brasil” para compor as Brigadas Populares de Comunicação. A comunidade Brasil, no caso, não passava de um bairro popular da cidade venezuelana de Cumaná, sem qualquer relação com o país. O procurador chegou a dar um prazo de dez dias para o Ministério das Relações Exteriores “levantar a identidade dos jovens sequestrados e investigar uma possível rede de tráfico humano”
Antes disso, Souza já havia patrocinado ações polêmicas, como ressalta um texto do jornalista Luís Nassif de 2014. No ano anterior, tentou suspender toda a publicidade da Copa do Mundo por estar “absurdamente divorciada da realidade”. Com base em notas de jornal, instaurou um inquérito civil-público, na época do lançamento do Mais Médicos, para apurar “possíveis ações e omissões das administrações públicas – em todas as esferas – a respeito do programa Mais Médicos”. Em 2011, processou professores por desacato, depois de terem ido ao MPF-GO denunciar supostos desvios de verba do Fundeb (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Básico) pela prefeitura de Goiânia.