Na CPT
Reunidos em sua 29ª Assembleia Nacional, agentes da CPT em todo o país divulgam Carta Final em que destacam a preocupação com o aumento exponencial dos assassinatos no campo, assim como do aumento da investida do capital contra os territórios camponeses. Leia o documento na íntegra:
Estamos reunidos em Assembleia Nacional, a dois anos da morte de Dom José Moreira e de Dom Tomás Balduino e de tantos outros que nos precederam. Ficamos chocados pelas notícias de assassinatos, nestes dias, de camponeses e indígenas de vários recantos do País. Desde o começo do ano já somam mais de 20. Unidos aos povos do campo, das águas e das florestas, animados e orientados pelas luzes do nosso 4º Congresso, na noite de tempos difíceis, buscamos a água que sacia nossa sede de uma sociedade mais justa e solidária. Pois, como alerta o papa Francisco:
“onde há tantas desigualdades e são tantas as pessoas descartadas, privadas dos direitos humanos fundamentais, o princípio do bem comum torna-se, como consequência lógica e inevitável, um apelo à solidariedade e uma opção preferencial pelos mais pobres” (Laudato Sì, nº 158).
A memória dos lutadores do povo e de nossos mártires, bem como a força inspiradora do Espírito de Deus, nos animam a levar adiante nossa missão profética porque:
- O Deus da vida nos interpela a partir do clamor dos pobres.
O avanço do capitalismo neoliberal no campo se apropria das terras e territórios em nome do desenvolvimento – o agro e hidronegócio, mineradoras e projetos de geração de energia. Trata-se de uma violência crescente que ameaça e assassina. Somada ao silêncio e conivência da mídia e do judiciário, potencializada pelo legislativo, apoiada pelos setores conservadores do País, provocam perdas de direitos e tornam os dias mais difíceis para os povos da terra e das cidades. A crise que o País hoje vive, marcada por conflitos de interesses e privilégios, provocou nossa Assembleia a emitir uma Nota Pública à sociedade e ao Senado.
Esse modelo econômico desenvolvimentista leva à saída da juventude do campo, dificultando a vida camponesa. A maioria de nossos jovens camponeses, além de sentirem sua cultura inferiorizada e a política agrícola familiar e cooperativa desprotegida pelas políticas públicas, acabam nas periferias das grandes cidades, onde tem ocorrido o extermínio de jovens.
Este mesmo modelo violenta as mulheres nos seus direitos e desejos. A cultura machista quer seu silêncio permanente e as submete à exploração de uma dupla jornada não reconhecida e que não permite a construção de sua autonomia.
- O Deus da vida nos inspira e ilumina a…
Continuar acreditando na “Alegria do Evangelho” da Boa Nova de Jesus de Nazaré, pessoa simples e pobre que nos estimula a estar junto aos mais vulneráveis do campo.
Lutar pelos princípios do Bem Comum que orientam no sentido de uma sociedade justa e solidária, respeitando a Casa Comum, como lugar bom onde todos têm seu espaço de vida e de convivência harmoniosa e fraterna, é construir o Projeto de Deus.
Continuar assumindo a missão e o serviço da CPT como uma prioridade em nossas vidas, sendo uma generosa entrega a aqueles e àquelas que necessitam de nós, como verdadeiros lutadores do povo e da construção de uma sociedade para todos.
- O Deus da vida nos compromete a…
a) Sermos ousados/as em nosso modo agir, conviver e construir relações e processos de igualdade e democracia. Sentimos a urgência de nos organizar por meio de uma estrutura ágil e de um plano estratégico de ação.
b) Assumirmos nossa profecia na denúncia de toda negação dos direitos dos camponeses e camponesas e de outros trabalhadores e trabalhadoras, bem como de toda violência e atentados contra a vida humana e a natureza.
c) Estimularmos todas as iniciativas que geram vida digna comunitária, associativa e cooperativa na geração de trabalho digno, emprego e renda.
d) Mantermo-nos articulados com organizações que estejam a serviço do protagonismo das comunidades.
Convocamos todos e todas companheiros/as e amigos/as da CPT a estarmos unidos em torno à luta pela terra e na terra, mantendo sempre nossa ousadia profética e nosso compromisso com os camponeses e seus direitos.
Luziânia, 29 de abril de 2016.