Ocupação e resistência do Moxotó ao Pajeú!

A execução de “grandes projetos” por parte do Estado brasileiro carrega em seu DNA o gene da arbitrariedade e do autoritarismo! Por onde se realizam – consideremos a conclusão apenas parcial de muitos deles -, é possível perceber o rastro de destruição que se instaura, de consequências nos mais diversos campos, naturais e humanos. Sob o pretexto do progresso, do bem comum, costuma-se maquiar os planos mais perversos de desenvolvimento do capitalismo e seus ônus.

Tem sido assim no projeto de transposição das águas do rio São Francisco.  Agredidas por esses malefícios e conscientes da necessidade de organização, resistências populares têm se forjado onde a obra acontece. Desde junho de 2007, quando mais de mil famílias – entre camponeses e indígenas (Trukás) – ocuparam as zonas destinadas ao início das obras no Eixo Norte do canal da Transposição, no município de Cabrobó/PE – inúmeras manifestações de enfrentamento às obras têm ocorrido. 

Em dezembro de 2010, uma nova mancha na história desse empreendimento faraônico: após uma explosão nas obras do Eixo Leste em Sertânia/PE, três trabalhadores morreram e nove ficaram feridos. Mais ações em protesto, debates, mobilizações sem o retorno pretendido das autoridades. Após inúmeros (des)casos, aliados ao criminoso destrato com as famílias atingidas, a luta continuou por meio de ocupações nos municípios de Floresta e Sertânia (2012). Desarticuladas temporariamente, essas ações mantiveram a resistência viva e articulada para ações posteriores.  As mais recentes delas em Abril de 2016, novamente em Sertânia (iniciada em 10/04 – 100 famílias) e no município de Custódia (iniciada em 15/04 – 120 famílias).  Lutando contra a usurpação de direitos e expropriação de seus territórios, essas famílias têm se organizado na contramão do progresso proposto pelo Estado, provando que este não se organiza em harmonia com – e pela – sua base, o povo.

Essa ruptura com o povo tem se manifestado – dentre outras formas – na pressão exercida pelo Ministério de Integração Nacional, que nos últimos dias vem impelindo as famílias a desocuparem as áreas, sob a justificativa de que as terras já possuem proprietários. As famílias sem terra, acampadas nesses locais, afirmam que a área pertence à União e solicitam junto ao INCRA e ao Governo do estado de Pernambuco participação efetiva na negociação, mediando o conflito e garantindo os direitos aos trabalhadores e trabalhadoras. A Comissão Pastoral da Terra tem prestado apoio aos acampados e acampadas.

Diante da conjuntura, o Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Espaço Agrário e Campesinato vinculado a Universidade Federal de Pernambuco (LEPEC-UFPE), que estuda, investiga e assessora organizações e entidades camponesas, lamenta e denuncia mais uma vez a subserviência do Estado ao capital, por meio dessa “grande obra”, que se desdobra em múltiplas agressões cotidianas a trabalhadores e trabalhadoras, subjetivas e concretas.

Ao passo que repudiamos essa postura conivente, manifestamos total apoio às famílias acampadas, bem como a todas que se encontram em luta contra os desmandos ocorridos nas obras da transposição do São Francisco. A estes e estas, toda nossa solidariedade e companheirismo! Avante!

OCUPAR E RESISTIR!

OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!

Imagem: Manifestantes estão acampados em área onde serão realizadas obras de transposição do Rio São Francisco (Foto: Juarez Matias/ Agência Estado)

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.

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